Itamaraty impõe sigilo a documentos sobre viagem de Bolsonaro à Rússia
Órgão recebeu ofício com perguntas sobre os temas tratados durante visita e o motivo de Carlos Bolsonaro ter participado da comitiva presidencial
O Itamaraty colocou sob sigilo, até 21 de fevereiro de 2027, os detalhes da viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, uma semana antes da invasão da Ucrânia. Em resposta a um questionário encaminhado pela bancada do PSOL na Câmara, o órgão informou que esse dados passaram a ser classiificados como sigilosos no dia 21 de fevereiro.
Foram enviadas 15 perguntas sobre a visita de Bolsonaro e seu encontro com o presidente Vladimir Putin. Uma das respostas, em um ofício de 12 de abril, confirma que os dois mandatários conversaram sobre a situação na Ucrânia, mas sem maiores comentários. O Itamaraty alegou não ter competência para comentar as declarações do presidente.
Outra questão respondida foi sobre os gastos com a viagem: as diárias custaram US$ 96.850,27 (cerca de R$ 453 mil) e o aluguel de veículos, US$ 125.328 (cerca de R$ 588 mil). Despesas com intérpretes somaram US$ 9.645 (R$ 45 mil), escritório e material de apoio foram US$ 12.595 (R$ 58 mil); US$ 890 (R$ 4.150) foram usados com cerimonial. A hospedagem de Bolsonaro ficou a cargo do governo russo.
O PSOL também perguntou o que o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, foi fazer na Rússia, acompanhando o pai. O Itamaraty respondeu que "a designação da comitiva é da competência da Presidência da República". E ressaltou que a ida dele a Moscou não gerou despesas por parte do Ministério das Relações Exteriores.
Outra questão envolvendo o vereador, chamado de filho número 02, diz respeito a conversas sobre o uso de aplicativos de comunicação e/ou envios de mensagens, como o Telegram. O PSOL perguntou se esse tema chegou a ser discutido durante a visita a Moscou e se teve a participação de Carlos Bolsonaro. O Itamaraty respondeu que não tem conhecimento sobre a realização desse tipo de evento durante a viagem à Rússia.
O partido de oposição ao governo Bolsonaro questionou, ainda, as declarações de Jair Bolsonaro a Putin, especialmente quando disse que era "solidário" à Rússia. O órgão reiterou as explicações dadas na época, como a de que Bolsonaro quis dizer que o Brasil é solidário "a todos que querem a paz".
— Esta questão do sigilo dá margem a muita manipulação e ocultação da verdade. Tem muita conveniência. A resposta sobre a presença de Carlos Bolsonaro na comitiva é vergonhosa, cínica e debochada. O que foi fazer um vereador do Rio em Moscou e Budapeste em reuniões presidenciais e ministeriais em plena semana de trabalho na Câmara Municipal? — perguntou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que também se referia à visita de Bolsonaro à Hungria.
Seu partido pediu, nesta terça-feira, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, a convocação do chanceler Carlos França. Entre os questionamentos, um deles é a imposição de sigilo sobre telegramas e documentos.
Também são apresentados como argumentos para a convocação do chanceler a ida de Carlos Bolsonaro à Rússia e à Hungria, o fato de o presidente ter ido a Moscou às vésperas da invasão da Ucrânia e o alinhamento de Jair Bolsonaro com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, um dos expoentes da extrema direita no mundo.
O GLOBO procurou o Itamaraty e tentou contato com a assessoria de Carlos Bolsonaro, mas até o momento não obteve retorno.
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