Pré-candidatura de Simone Tebet gera queda de braço entre alas do MDB
Caciques como o senador Renan Calheiros e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira sinalizaram intenção de derrubar candidatura
Em uma prévia das divisões internas no caminho da convenção nacional do MDB, prevista para julho, lideranças favoráveis e contrárias à homologação da senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência mediram forças, ontem, após um jantar de emedebistas com o ex-presidente Lula (PT). Alguns caciques regionais que conversaram com o petista, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), sinalizaram que podem tentar derrubar a candidatura de Tebet na convenção partidária. Em reação, dirigentes de estados como Minas Gerais, Paraná e Goiás endossaram publicamente o nome da senadora.
As convenções, que ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto, são a etapa na qual os partidos oficializam seus candidatos. No caso do MDB, o estatuto da legenda prevê uma votação secreta, por maioria simples, com peso mais elevado para os estados com as maiores bancadas na Câmara e lideranças que acumularam cargos eletivos ou na máquina partidária ao longo de sua trajetória política. O formato tende a diluir a influência dos caciques de quatro estados do Nordeste — Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — que já sinalizam abertamente priorizar Lula. Líderes desses estados encontraram o petista anteontem, em Brasília, na residência de Eunício. O ex-presidente também já colheu apoios de emedebistas no Piauí, na Bahia e no Pará.
Eunício diz que o partido não repetirá o “suicídio político”, como classifica a candidatura, em 2018, do ex-ministro Henrique Meirelles à Presidência. Meirelles terminou a disputa com 1,2% dos votos válidos, numa eleição que reduziu as bancadas do MDB na Câmara e no Senado. Embora fosse criticado abertamente por lideranças, como Renan, que hoje também marcam posição contra Tebet, Meirelles conseguiu 85% dos votos na convenção do partido que homologou sua candidatura.
"Se (Tebet) não for uma candidatura viável, não tenho dúvida de que os diretórios vão derrubar na convenção", afirmou Eunício.
No jantar de anteontem, Renan adotou a mesma linha: "Quem vai decidir o que o MDB vai fazer não é o presidente do partido nem um senador. Quem vai decidir o que o MDB vai fazer é a convenção".
Um dos articuladores da pré-candidatura de Tebet, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), incentivou ontem uma contraofensiva ao movimento de fritura da senadora. Segundo uma liderança regional do partido relatou ao GLOBO, Baleia e aliados pediram manifestações públicas de apoio a Tebet. Ao menos sete diretórios estaduais seguiram o pedido. Em três desses estados, Rio Grande do Sul, Acre e Tocantins, o MDB deve lançar candidatos a governo ou Senado, abrindo possíveis palanques à pré-candidata.
Na última convenção do MDB, representantes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nas quais Tebet encontra hoje ambiente mais favorável à sua candidatura, corresponderam a mais de metade do quórum. O Nordeste, mais próximo a Lula, e o Norte, onde há divisões entre apoio ao petista e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), foram minoria.
"Acho difícil que a convenção modifique a candidatura de Simone. A retirada fortaleceria a polarização, e não necessariamente o apoio a Lula. Uma parte significativa poderia ir para Bolsonaro", disse o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).
Viabilidade eleitoral
Reservadamente, lideranças regionais do partido, inclusive da ala majoritária que deve endossar Tebet na convenção, avaliam que apoio na prática durante a campanha dependerá da demonstração de viabilidade eleitoral. Na última pesquisa Datafolha, ela teve 1% das intenções de voto. Para se cacifar, a senadora busca uma aliança com o PSDB, que segue em disputa interna entre os ex-governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), e com o União Brasil, que ontem anunciou o presidente da sigla, Luciano Bivar, como nome a ser avaliado na construção da chapa única da terceira via.
Em estados do Centro-Oeste e do Sul, lideranças do MDB têm identificado melhoras na avaliação de Bolsonaro entre os eleitores e, por isso, não querem se vincular a candidatos que façam oposição explícita ao presidente.
No Sudeste, o MDB de São Paulo tem apoiado Tebet dentro de uma construção de terceira via — ontem, a senadora reuniu-se com Doria, Baleia e com o ex-presidente Michel Temer —, mas há indefinições no Rio e no Espírito Santo. O partido integra a base do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro, e pode indicar seu vice. Ontem, o presidente do MDB fluminense, Leonardo Picciani, que já esteve alinhado à ala pró-Lula do partido, escreveu em suas redes sociais que o partido “tem o dever de levar à frente” a candidatura de Tebet. Já a senadora capixaba Rose de Freitas, que esteve no jantar com Lula, busca apoios para concorrer à reeleição.
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