Lula-Alckmin: PT e PSB têm histórico de proximidade e desavenças

Indicação de ex-governador paulista para se vice de petista deve selar paz entre partidos, embora ainda existam rusgas

Foto: Reprodução
O ex-governador Geraldo Alckmin com o ex-presidente Lula

Depois de um período de proximidade e parceria nos primeiros anos após a redemocratização, a relação entre PT e PSB viveu um período de turbulência e desavenças na última década.

Na disputa eleitoral deste ano, apesar de ainda persistirem rusgas em alguns estados, as duas siglas devem, enfim, selar a paz para viabilizar a chapa presidencial com Luiz Inácio Lula da Silva como candidato e  Geraldo Alckmin como vice.

O PSB apoiou Lula nas suas três primeiras tentativas de chegar à Presidência da República, em 1989, 1994 e 1998. Na primeira eleição, chegou até a indicar o vice da chapa, o gaúcho José Paulo Bisol. Em 2002, o partido enfrentou o líder petista no primeiro turno com Anthony Garotinho, mas na etapa final se engajou na campanha que levaria Lula ao Planalto.

A sigla participou dos governos petistas até 2013. Naquele ano, o PSB decidiu entregar o comando do Ministério da Integração Nacional para pavimentar a candidatura do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência.

Campos entrou na disputa em 2014 com críticas à presidente Dilma Rousseff. O candidato do PSB morreu num acidente de avião em agosto, a menos de dois meses da eleição, e foi substituído por sua vice, Marina Silva, na época também filiada ao PSB.

Marina assumiu a liderança das pesquisas de intenção de voto e passou a ser atacada de forma dura pela campanha petista. O episódio desgastou ainda mais a relação entre os partidos.

PSB apoiou impeachment de Dilma

O período de maior distanciamento viria em 2016, quando o PSB decidiu apoiar o impeachment de Dilma. A bancada na Câmara deu 29 votos pelo afastamento da petista e apenas três contra. Os parlamentares de Pernambuco, estado que dita os rumos da legenda, foram todos a favor do impeachment, inclusive Danilo Cabral, que agora que será candidato a governador do estado do Nordeste e conta com o apoio de Lula para se viabilizar.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, avalia hoje que a adesão da legenda ao impeachment foi “um erro”.

— O que veio na sequência do impeachment foi muito ruim, tanto (Michel) Temer quanto Jair (Bolsonaro). Nós fomos empurrados pelas ruas. Foi traumático, como todo impeachment. Considero que foi um erro que se cometeu. Reconhecer erros nunca é demais.

Na eleição presidencial de 2018, o PSB estava caminhando para apoiar Ciro Gomes (PDT), que disputava com o petista Fernando Haddad a preferência do eleitorado de esquerda naquela disputa. Porém, na reta final, a cúpula petista conseguiu impedir a aliança ao oferecer a retirada da candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco. Marília era vista como uma ameaça à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB).

O partido acabou liberando os seus direitos estaduais para definirem por conta própria o apoio a presidenciáveis naquela eleição. No segundo turno, houve adesão à candidatura de Haddad, mas alguns nomes, como Márcio França que disputava o segundo turno da eleição para o governo de São Paulo, evitaram se vincular ao petista.

Disputa entre Marília Arraes e João Campos

Na campanha municipal do ano passado, os dois partidos voltaram a viver momentos tensos. Carlos Siqueira criticou Lula por ter definido uma estratégia de priorizar o lançamento de candidaturas próprias em vez de buscar alianças com partidos da esquerda.

O embate entre as duas legendas foi mais quente na disputa pelo comando de Recife. João Campos, filho de Eduardo Campos que seria eleito prefeito no segundo turno contra Marília Arraes, chegou a dizer em um debate que os dirigentes de seu partido não tinham sido presos, numa referência aos petistas tragados pelo mensalão e pela Lava-Jato. Campos resistiu inicialmente à aliança com Lula para a eleição presidencial deste ano, mas acabou mudando de oposição com o argumento de que há necessidade de união para impedir um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro.

— O quadro nacional exige das forças progressistas essa unidade. É momento de união de todos que defendem a democracia e os direitos humanos, e apresentar aos brasileiros um projeto de país que aponte caminhos para superarmos esse conjunto de crises. E o ex-presidente Lula já mostrou capacidade e sensibilidade de governar — afirmou o prefeito.

Apesar da aliança estar sacramentada, ainda há arestas a serem aparadas. Em fevereiro, o PT criticou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), por ter recebido o ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato a presidente pelo Podemos. Houve um bate-boca público e Casagrande chamou os petistas de “arrogantes”.

Há ainda impasses que podem resultar em duelos entre os dois partidos em São Paulo, com França e Haddad, e no Rio Grande Sul, com Edegar Pretto (PT) e Beto Albuquerque (PSB). O PSB também se recusou a formar uma federação partidária com PT, PCdoB e PV.

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