Jefferson acusa presidente do PTB de traição e a 'demite' por carta

Graciela Nienov nega ter pedido para deixar o cargo e diz que iniciativa partiu do ex-deputado

Foto: Reprodução/PTB
Jefferson acusa presidente do PTB de traição e a 'demite' por carta

Em prisão domiciliar, o  presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, anunciou no último domingo (30) que Graciela Nienov pediu para deixar a presidência nacional do partido por "não possuir condição moral ou política" para continuar no cargo após uma briga interna e acusações de traição.

Ao Globo, Graciela negou ter pedido demissão, e disse que foi Jefferson quem pediu seu afastamento. Segundo ela, a situação do comando da legenda deve ser definida a partir de amanhã.

"A Graciela me pediu demissão, eu aceitei, pois após os áudios do grupo dela perdeu qualquer condição moral ou política para continuar à frente da presidência. A Graciela me desqualificou e me traiu. Quis apagar minhas lutas e o meu legado. Estou dizendo isso pelo o que ouvi do grupo secreto da Graciela. A Graciela foi pior de que a Cristiane para mim, que foi pior do que Brutus foi para Júlio César", escreveu Jefferson.

No registro, enviado pelo ex-deputado ao seu advogado, ele diz que foi alvo de "zombarias" em um grupo de Whatsapp. Jefferson também critica a filha, a ex-deputada Cristiane Brasil, com quem rompeu em outubro do ano passado. "Eu poderia esperar essas atitudes de Cristiane, mas de Graciela, nunca", reforçou, em outro trecho.

Como está preso, Jefferson afirma que quer conversar pessoalmente com Graciela e pede ao advogado para conseguir uma autorização judicial permitindo o encontro.

"Quanto a falar comigo, a Graciela sabe onde eu moro. Não sairei de casa, estou preso e incomunicável, somente podendo receber visitas de parentes próximos e de meus advogados como agora recebo. Decisão judicial. Peço a você que peça autorização ao Ministro para trazer a Graciela até aqui. Em caso de autorização, eu a receberei como só poderia ser, minha criatura querida. Como ser humano tem meu amor, mas perdeu minha confiança para presidir nosso PTB."

Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a substituição da prisão preventiva de Jefferson pela prisão domiciliar. O ministro também ordenou que o ex-deputado terá que usar tornozeleira eletrônica.

Ele está preso no Rio de Janeiro desde o dia 13 de agosto com base no inquérito que apura a atuação de uma milícia digital que atenta contra a democracia.

No sábado, Cristiane Brasil fez uma série de publicações nas redes sociais acusando a atual presidente do PTB, Graciela Nienov, de ter feito um "pacto com o STF" para manter Jefferson preso.

Em um dos áudios divulgados por Cristiane Brasil, Graciela diz em um grupo de Whatsapp com outros integrantes do PTB que "tem que ir em janeiro almoçar com o Alexandre" porque fez um compromisso com ele. Moraes nega ter se encontrado com Graciela e diz que nem sequer a conhece.

Na sequência, um contato salvo como 'Paulinha Porto Alegre PTB' a apoia e responde: "A única coisa que eu quero é o STF de costas para nós fingindo que a gente não existe e nós tudo soltos".

Em nota, a assessoria de imprensa de Moraes disse que é "absolutamente falsa a notícia de que o Ministro Alexandre de Moraes tenha recebido em audiência, conversado pessoal ou telefonicamente com a ex-presidente do PTB, que nem ao menos conhece".

Ao Globo, Graciela Nienov confirmou que recebeu a carta de Roberto Jefferson da prisão e minimizou o conteúdo dos áudios:

"Ele (Jefferson) pediu para eu sair por meio do texto. O que eu sinto no momento é muita dor e mágoa. Eu sempre o considerei meu líder e mentor. Era como um pai para mim. Nos áudios não tem nada, não falo uma vírgula", contra ele.

Graciela, no entanto, afirmou que não pediu demissão a ninguém e que a partir desta segunda-feira vai ver o que fazer com o cargo, ao qual ela foi reconduzida em convenção nacional do PTB realizada em 30 de novembro. Antes, ela vinha exercendo a presidência de maneira interina após afastamento de Roberto Jefferson, que foi determinado pelo ministro do STF, Alexandre Moraes.

Fortalecimento interno

Após bater de frente com a filha Cristiane e um grupo de parlamentares do PTB que pediam o seu afastamento, Graciela vinha se fortalecendo dentro da sigla. Na última semana, ela se reuniu com a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de quem é amiga, para discutir a filiação dela ao partido - após se desfiliar do PP, a ministra procura uma legenda para se lançar ao Senado por São Paulo.

Em 11 de janeiro, a dirigente publicou um vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro no qual afirmava que o PTB "não abre mão dos seus valores" e "Bolsonaro reeleito em 2022". Na ocasião, o intuito da gravação era iniciar uma articulação para filiar parlamentares alinhados ao bolsonarismo.


"Ela tem uma longa história com Roberto Jefferson. Já fui do PTB. E obviamente o partido nos apoia e estará junto conosco. Ou melhor, continuará junto conosco ao longo deste ano e nos outros anos também", declarou Bolsonaro, no vídeo.

Na convenção do PTB que a elegeu presidente, Jefferson também enviou uma carta a ela — no caso, celebrando a sua vitória. "Com Graciela Nienov, a base chega ao topo no PTB, provando duas coisas à classe política: no PTB a mulher tem vez e tem voz", escreveu ele.