"Linha dura", novo corregedor do TSE cuidará de inquérito contra Bolsonaro
Mauro Campbell será responsável pelo inquérito administrativo aberto na Corte contra Bolsonaro e que pode levar à inelegibilidade do presidente
A troca de comando na Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral não deve significar mudança de rumo no órgão. Essa é a percepção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com a posse ontem do ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), considerado linha dura, no cargo. Ele assume no lugar do ministro Luis Felipe Salomão e será responsável pelo inquérito administrativo aberto na Corte em agosto contra Jair Bolsonaro, que pode levar à inelegibilidade do presidente.
Campbell será o responsável por concluir a instrução dessa investigação, que tem cinco frentes — uma delas é a suspeita de atos de campanha eleitoral antecipada nas motociatas realizadas pelo presidente nos últimos meses e bancadas com dinheiro público. Outra linha de apuração definida pela corregedoria é a realização de transmissões por Bolsonaro com ataques ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas. A Corte também vai avançar sobre blogs e sites que disseminavam notícias falsas sobre as urnas e foram desmonetizados por determinação do tribunal.
Durante o julgamento das ações que pediam a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por disparos em massa nas eleições de 2018, o ministro acompanhou o posicionamento de Salomão, então corregedor, e fez uma manifestação contundente sobre o discurso de ódio nas campanhas eleitorais brasileiras, citando diretamente o presidente.
"Não são poucos os candidatos que, como o presidente eleito, têm por foco de suas campanhas ataques generalizados aos demais candidatos, às instituições e até mesmo à própria democracia. Nesse contexto, o argumento para a obtenção do voto é o ódio, distribuído a esmo e, na maioria das vezes, sem nenhuma verossimilhança fática", disse.
No mês passado, no STJ, foi ele o responsável pelo afastamento do governador do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), por suposta participação na obstrução de uma investigação de um esquema de corrupção.
Em agosto, propôs o afastamento da inelegibilidade do ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella, mas manteve a condenação pela realização de um comício para o qual foram convidados apenas funcionários da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb). Para Campbell, não houve provas suficientes para caracterizar abuso de poder político. O novo corregedor fica no cargo até setembro de 2022, às vésperas da eleição.