Marcos Pontes critica Bolsonaro por corte de verba e é repreendido por colegas
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) sofreu um remanejamento de R$ 565,6 milhões do orçamento
Incomodado desde que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) sofreu um remanejamento de R$ 565,6 milhões do orçamento, o comportamento do ministro Marcos Pontes, chefe da pasta, gerou mal-estar durante a reunião ministerial na última sexta-feira, no Palácio do Planalto. Na presença do presidente Jair Bolsonaro, Pontes foi repreendido pelos colegas, que pediram para ele cessar as críticas públicas que vem fazendo ao próprio governo.
Durante o encontro, ministros argumentaram com o colega que não havia justificativa para enviar mais recursos ao ministério. Justificaram que, ao congelar parte do dinheiro que poderia ir para a pasta de Marcos Pontes, o governo priorizou o envio de recursos para a produção de radiofármacos, essenciais para a medicina nuclear, que é aplicada em tratamentos de câncer por radioterapia e na realização de exames de imagem, por exemplo.
Participaram da reunião, além de Pontes, os ministros da Secretaria de Governo, Flávia Arruda; da Casa Civil, Ciro Nogueira; do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas; da Agricultura, Tereza Cristina; do Trabalho, Onyx Lorenzoni; e os presidentes da Caixa, Pedro Guimarães, e do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, incomodou o fato de Marcos Pontes ter feito críticas públicas ao governo durante em entrevistas, nas redes sociais e durante uma audiência na Câmara, antes de tentar discutir internamente com os ministros sobre realocações das verba. Na avaliação de integrantes do governo, para agradar a comunidade científica, Pontes expôs Bolsonaro.
Na última semana, Pontes falou em audiência na Câmara que, assim como ele, o presidente havia ficado surpreso com a alteração do curso do orçamento e que iria ajudá-lo a recompor a quantia.
"Como eu já coloquei publicamente, eu fui pego de surpresa, falei com o presidente sobre isso ontem (12), conversei com ele, ele também foi pego de surpresa. Pedi ajuda para recuperação desses recursos, e ele prometeu ajudar", disse o ministro, reforçando também que tratou do assunto com Flávia Arruda.
"Prometeram que isso aí vai ser restituído. Não é muito (...) não é alto, mas é um recurso essencial" afirmou o ministro, na ocasião.
Na última quinta-feira, a pedido do governo, o Congresso congelou R$ 565,6 milhões que iriam para a principal fonte de fomento à pesquisa no país, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Inicialmente, a pasta teria à disposição R$ 655,4 milhões no fundo, mas, com o represamento de 86,3% do valor previsto, restaram R$ 89,8 milhões. O pedido foi feito pelo Ministério da Economia. A medida, contudo, ainda não foi sancionada por Bolsonaro.
Procurado, Marcos Pontes não retornou às ligações.