Ciro Gomes quer trégua entre oposição e Bolsonaro até o Natal; entenda

Pré-candidato à Presidência pelo PDT defende necessidade desesperada de consenso, mas reforça que isso não significa fim das diferenças com o PT

Foto: O Antagonista
Ciro foi vaiado e quase agredido em manifestação da esquerda em São Paulo

Um dia após sofrer ataques nas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro em São Paulo, o pré-candidato do PT à Presidência da República Ciro Gomes propôs uma “trégua de Natal” entre a oposição ao governo para produzir um consenso pelo impeachment de Bolsonaro.

"Propomos uma amplíssima trégua de Natal. Não existem as tréguas de guerras? Quando o assunto for Bolsonaro e impeachment, devemos esquecer tudo e convergir para esse amplíssimo consenso", afirmou em coletiva de imprensa virtual neste domingo.

Ciro disse que isso não significa superar diferenças, como as que tem com o MBL e com o PT - sobre estas, reforçou, são "cada vez mais profundas e insuperáveis". Mas destacou que são tréguas desnecessárias para tirar o presidente da Câmara Arthur Lira "da inércia criminosa" e mobilizar os deputados a votarem o impeachment do presidente.

"É como nas guerras. Só na noite de Natal, vamos parar de atirar. É uma comparação que faço de momento aqui. Nossas diferenças vão continuar. Não tenhamos ilusão, vou continuar estabelecendo com muita clareza as diferenças com Bolsonaro e o lulapetismo, em todos os campos. Será a marca do nosso dia a dia. Mas concordamos que existe um inimigo mortal, genocida, que compromete a democracia brasileira e pode chegar ao limite de não ter eleições em 2022. Temos obrigação de nesse assunto achar um modo de conviver", afirmou.

Nos atos de ontem, na avenida Paulista, Ciro foi vaiado por petistas enquanto discursava. Houve ainda um início de briga entre petistas e apoiadores do pedetista, após o carro de Ciro ser atacado quando ele deixava a manifestação.

"Sei que a militância (do PDT) está aborrecida, mas vamos manter o foco no que interessa e não dar relevância ao que não tem relevância", minimizou, pedindo serenidade aos apoiadores.

Ciro reforçou a necessidade de unidade contra "o bote" de Bolsonaro nas eleições presidenciais do ano que vem.

"Bolsonaro é uma espécie de cobra, uma víbora venenosa que vai esperar a hora de dar o bote. Ele já anunciou que não haverá eleições se as regras não estiverem ao gosto dele. E quando ele encolhe, é por razões de dissuasão que nós produzimos, Judiciário ou quem está na rua lutando", afirmou.

Ciro não comentou explicitamente a ausência do ex-presidente Lula nos protestos de sábado, mas disse que foi por "dever moral" com a população brasileira, mesmo sabendo que a exposição poderia levar a incidentes como os ocorridos na Paulista.

"Vamos precisar de todo mundo, para banir do mundo a opressão, trata-se rigorosamente do que está no verso mineiro do Beto Guedes.Precisamos planejar as próximas rodadas. Vou sugerir uma organização, são 21 organizações, não é só o PT, são 21 organizações, centrais sindicais", afirmou.

Segundo Ciro, a necessidade "desesperada" de um consenso é a única forma de proteger a democracia brasileira das ameaças do atual presidente.

"Se nos mobilizarmos, e acho que o gigante acordou, até dezembro, janeiro ou fevereiro poderemos mostrar aos políticos que é uma omissão criminosa estarem acobertando Bolsonaro. E que o impeachment pode ser uma ferramenta eficaz para interromper essa tragédia", disse.

Ainda sobre o PT, Ciro agradeceu a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, por ter criticado as agressões ao pedetista. Mas afirmou que ninguém ligou para se desculpar.

"Agradeço, pois esse é um sinal para a turma dele de que esse tipo de prática não é orientação nem é desejável. É um gesto relevante (da presidente do PT), mas ninguém me ligou".

Ciro afirmou que estará nos próximos protestos de 15 de novembro, data comemorativa da proclamação da República no Brasil.

E afirmou que é necessário, para as próximas mobilizações, diversificar as bases regionais "para Minas, Porto Alegre" e mobilizar a classe artística, e sensibilizar aristas, que têm um histórico "simbólico forte das vezes que precisamos criar consenso no país", ao lembrar das campanhas das Diretas Já.