Senadores americanos alertam Biden para risco à democracia no Brasil

Em carta, parlamentares expressaram temores sobre as alegações 'cada vez mais perigosas' do brasileiro sobre as eleições de 2022

Foto: Reprodução: iG Minas Gerais
EUA alerta para 'sérias consequências' caso Brasil sofra ruptura democrática

Quatro influentes senadores democratas americanos alertaram o presidente Joe Biden, na última terça-feira (28), para a  “deterioração da democracia brasileira” sob governo Jair Bolsonaro (sem partido) , pedindo que ele advirta o colega do Brasil para "sérias consequências" caso haja uma ruptura democrática no país antes das eleições de 2022.

“Pedimos que deixe claro que os Estados Unidos da América apoiam as instituições democráticas do Brasil e que qualquer ruptura antidemocrática com a ordem constitucional atual terá sérias consequências", disseram os senadores em carta ao secretário de Estado, Antony Blinken.

Os senadores expressaram temores a respeito das alegações “cada vez mais perigosas”. de Bolsonaro sobre as eleições de 2022, nas quais ele planeja se candidatar à reeleição. A carta é assinada por Dick Durbin, número dois na liderança do Partido Democrata no Senado, Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, Ben Cardin, da mesma comissão, e Sherod Brown, da Comissão de Agricultura e Florestas.

Bolsonaro, que era um dos principais aliados internacionais do ex-presidente Donald Trump, já disse que o Brasil poderia ver cenas semelhantes às de 6 de janeiro em Washington, quando apoiadores do republicano invadiram o Capitólio, na tentativa de evitar a certificação da vitória de Biden nas eleições presidenciais de 2020.

O presidente brasileiro também já afirmou inúmeras vezes, sem provas, que o sistema de votação é suscetível a fraudes e declarou que se recusará a admitir a derrota se perder, afirmando que “só Deus pode me tirar da Presidência”.

“Esse tipo de linguagem imprudente é perigosa para qualquer democracia, mas é especialmente imerecida em uma democracia do calibre do Brasil, que por décadas se mostrou capaz de facilitar transferências pacíficas de poder”, escreveram os senadores.

Eles também mencionaram os "ataques pessoais" de Bolsonaro a membros do Supremo Tribunal Eleitoral (STE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), destacando que eles ameaçam minar o Estado de direito.

"Nossa associação com o Brasil deve ser um baluarte contra atores antidemocráticos, de China e Rússia a Cuba e Venezuela", disseram os senadores a Blinken, instando-o a tornar o apoio à democracia brasileira "uma prioridade diplomática", incluindo "em discussões bilaterais relacionadas à participação do Brasil em organizações" como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

O Brasil foi declarado "aliado extra-Otan" dos EUA por Trump e pede o apoio americano para entrar na OCDE, o chamado "clube dos ricos".

Em fevereiro, o senador Bob Menendez já havia enviado uma carta ao presidente Bolsonaro afirmando que o relacionamento com o Brasil sairia prejudicado se o governo brasileiro não condenasse a “incitação à violência e os ataques contra a democracia americana” quando o Capitólio foi invadido. Bolsonaro, que foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória de Biden, nunca o fez.

Até o momento, porém, o governo Biden tem sido discreto em suas declarações públicas sobre Bolsonaro, apesar de a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília ter divulgado uma nota afirmando "ter grande confiança na capacidade das instituições brasileiras de realizar uma eleição justa em 2022" ao final da visita do conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, ao Brasil, no início de agosto.

Na ocasião, como o Globo publicou, Bolsonaro deixou a delegação americana chocada ao dizer, em encontro no Planalto, que está lutando para não sofrer uma fraude e se comparar a Trump, que alega falsamente que sua derrota eleitoral foi fabricada.

Blinken se reuniu na semana passada, paralelamente à Assembleia Geral das Nações Unidas, com o chanceler brasileiro Carlos Alberto França, em um compromisso que, segundo um funcionário do Departamento de Estado, buscou encorajar Bolsonaro, cético em relação às mudanças climáticas, a elevar as metas do Brasil contra o aquecimento global.


O Brasil será um ator crucial na cúpula do clima da ONU em Glasgow, em novembro, devido ao papel da Amazônia como captadora de gás carbônico.

Em entrevista à revista Veja na sexta-feira, Bolsonaro disse que há "chance zero de um golpe" no Brasil.