Presidente defendeu tratamento precoce, mentiu sobre desmatamento da Amazônia e afirmou que o Brasil está à beira do socialismo
Ao alegar que o governo federal não está envolvido em casos de corrupção, Bolsonaro ignora inquéritos como o de interferência na PF; fraude e improbidade administrativa no Ministério do Meio Ambiente e corrupção no contrato de compra da vacina indiana Covaxin.
Na prática, as questões não foram tratadas com o mesmo peso. Em março de 2020, Bolsonaro contrariou a OMS e, em rede nacional, pediu “volta à normalidade” e chamou a Covid-19 de “gripezinha”. Dali em diante, tentou reverter medidas de restrição, atrasou compra de vacinas e defendeu remédios comprovadamente ineficazes.
Assim como em 2019 e 2020, Bolsonaro defendeu que seu governo trabalha para preservar a Amazônia. Ao citar redução de 32% do desmatamento em relação ao ano passado, o presidente ignorou que esse valor já correspondia a quase o dobro do observado entre janeiro e agosto de 2018, antes do início de seu governo.
Ao contrário do que disse o chefe do Executivo, o orçamento dobrado para o Ibama e o ICMBio, órgãos de fiscalização do Ministério do Meio Ambiente, está previsto apenas para a partir de 2022. Ainda assim, o aumento partirá de números em queda, já que as despesas para esses órgãos em 2021 foram as menores desde 2017
Segundo ranking da própria ONU, divulgado em junho, o investimento estrangeiro no Brasil em 2020 despencou para níveis de 20 anos atrás.
Entre 1998 e 2017, o BNDES desembolsou cerca de US$ 10,5 bilhões em empréstimos a empresas brasileiras que atuaram em 15 países. Desses, apenas Venezuela e Cuba têm regimes declaradamente socialistas, e os empréstimos às empresas envolvidas no projeto do Porto de Mariel, na ilha caribenha, foram os únicos da lista que não exigiram garantias de terceiros.
Não há nenhum dado que sustente a afirmação do presidente da República. Em São Paulo, por exemplo, o ato reuniu 125 mil pessoas, segundo o governo do estado. Em 2016, de acordo com o Datafolha, 500 mil pessoas foram à Avenida Paulista para pedir o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Não é possível comparar o total de empregos formais do ano passado com anos anteriores, uma vez que as metodologias do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mudaram. Antes, eram contabilizados apenas empregados contratados sob regime CLT; a partir de 2020, o Caged passou a considerar trabalhadores temporários, avulsos e cedidos, agentes públicos e dirigentes sociais.
Especialistas apontaram que a alta nos preços não tem relação com as medidas de restrição, mas sim com uma série de outros fatores como: alta do dólar; escassez de produtos devido a modificações logísticas em todo o mundo; crise hídrica; mudança de política de preços da Petrobras; e ondas de frio que impactaram produção de alimentos.
De fato, empresas estatais federais registraram bilhões de reais em prejuízo e hoje são lucrativas, mas essa virada ocorreu antes do governo Bolsonaro. Em 2016, quando o país foi presidido por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), as estatais somaram lucro de R$ 4,4 bilhões. Desde então, o resultado positivo aumentou.