Sem cumprir promessas, Bolsonaro se agarra à radicalização do discurso

Levantamento do GLOBO aponta que de 30 compromissos do presidente, 18 não saíram do papel, e três só foram parcialmente atingidos

Foto: Divulgação/Planalto/Marcos Corrêa/PR
Jair Bolsonaro (sem partido)

Pressionado pela falta de resultados concretos do governo e sem uma saída clara para reverter a queda de popularidade, o presidente  Jair Bolsonaro intensificou o apelo a nichos de apoiadores, radicalização simbolizada pela convocação para as manifestações de terça-feira. Levantamento feito pelo GLOBO mapeou 30 das principais promessas de campanha, direcionadas a setores mais amplos e a grupos fiéis — 18 não saíram do papel, nove foram implementadas e três foram entregues em parte. A lista foi feita com base no programa de governo e em declarações.

Uma delas, aposta para mudar a curva acentuada de rejeição identificada pelas pesquisas, é a criação de um programa com valor superior ao do Bolsa Família. Batizada recentemente de Auxílio Brasil, a iniciativa esbarra na falta de espaço fiscal: o Orçamento enviado ao Congresso prevê um valor igual ao do programa criado pelo seu potencial adversário em 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Completam o cenário a desarticulação na relação com os parlamentares — ponto que a adesão do Centrão ainda não equacionou, haja vista a derrota imposta pelo Senado na rejeição da minirreforma trabalhista na quinta-feira — e as desconfianças mútuas entre equipe econômica e coordenação política: auxiliares do ministro Paulo Guedes se queixam da falta de empenho dos colegas do Planalto.