CPI da Covid: lobistas têm ligações com Flávio e Renan Bolsonaro
Faria ajudou Renan a abrir empresa e procurou Flavio para indicar ao governo intermediário na venda de vacinas; Segundo o vice-presidente da comissão, Marconny Faria é "o senhor de todos os lobbys"
Documentos obtidos pela CPI da Covid no Senado Federal detectam uma proximidade de lobistas com os filhos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Entre eles, uma conversa de WhatsApp que mostra que Jair Renan Bolsonaro recorreu a ajuda de Marconny Faria para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, publicado na íntegra pelo Estadão nesta quinta-feira, 02, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para conseguir ajuda com Ministério da Saúde para venda de vacinas.
O lobista Marconny Faria, ligado à Precisa Medicamentos, pode ter operado em nome da farmacêutica no Ministério da Saúde. Segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ele seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. Envolvido em vários casos. Marconny deveria depor ontem na CPI da Covid e teve depoimento adiado para hoje, mas vem tentando escapar dos senadores. A polícia legislativa do Senado procura por ele e o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSB-AM) pediu a detenção do passaporte dele, para que ele não consiga sair do país, fugindo.
As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular de Marconny e encaminhadas à CPI. No conteúdo, a advogada Karina Kufa, que é próxima do presidente Bolsonaro, também é citada. As conversas foram reveladas originalmente pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmadas pelo Estadão em seguida.
Ao invés de procurar caminhos oficiais, Jair Renan procurou um lobista para abrir sua empresa, uma produra de eventos em Brasília. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreveu Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos.
As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente. Ele seria questionado sobre isso na CPI da Covid também.
Já em relação ao filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), a aproximação foi com outro lobista e objetivo, o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.
Em junho, uma funcionária de Flávio encaminhou ao ministério um pedido de um suposto vendedor de vacinas que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity, uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento.
No mesmo mês, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem em que solicitava uma reunião.
O senador confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com representantes da Vaxxinity: “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações. O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto”, diz a nota divulgada pela equipe do senador.
A CPI da Covid vai tentar descobrir se Flavio Bolsonaro intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude no contrato da Coxavin – a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
- Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.