Insatisfação do Centrão levou Bolsonaro a planejar troca na Casa Civil
Convidado para substituir Luiz Eduardo Ramos, Ciro Nogueira ficou contrariado com atuação do Planalto no Senado e com liberação de crédito para o governo do Piauí, comandado por adversário
Para conter insatisfações de aliados do Centrão , o presidente Jair Bolsonaro avalia uma nova mudança ministerial com a substituição do ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. Para o posto, Bolsonaro sondou o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, um dos principais partidos da base do governo.
Além de melhorar a articulação no Senado, em meio à CPI a Covid e com dificuldades na indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF), a mudança serviria para aplacar uma insatisfação pessoal do próprio Ciro.
Pré-candidato ao governo do Piauí, o senador ficou irritado com o fato de o governo do Piauí, comandado por seu adversário político Wellington Dias (PT), ter anunciado na semana passada que o Ministério da Economia autorizou uma operação de crédito por meio do Banco do Brasil de R$ 800 milhões para o estado.
Em entrevista à Joven Pan Itapetininga na manhã desta quarta, Bolsonaro confirmou que deve fazer uma "pequena mudança ministerial" na próxima semana, mas não entrou em detalhes.
"Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil", declarou Bolsonaro.
Caso a nomeação de Ciro seja confirmada, será o primeiro senador a ocupar um ministério no governo Bolsonaro. A Casa Civil é responsável pela coordenação entre os ministérios e pela nomeação dos principais cargos no governo.
Desde de antes do início da CPI já havia no governo o diagnóstico de que faltava interlocução com o Senado. O cenário foi agravado com o desenrolar da comissão, que tem deixado o governo na defensiva.
A articulação no Senado também ficou em evidência com a indicação do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, ao Supremo Tribunal Federal. Mendonça enfrenta resistência na Casa e ainda não tem a garantia que terá os votos necessários para ter sua nomeação confirmada.
A mudança, se confirmada, ocorre no momento em que Bolsonaro está pressionado pela CPI da Covid e se vê atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto. O líder do PT também tem flertado com partidos da base aliada do governo.
Insatisfeito com o desempenho do governo na CPI e a articulação política, Bolsonaro comunicou a Ramos, em conversa no Planalto na terça-feira, que precisaria do cargo. No mesmo dia, o presidente conversou com Ciro, um dos líderes do Centrão, para assumir o posto. Uma reunião nesta quarta-feira no Palácio do Planalto pode sacramentar o novo desenho do Planalto.
Homem de confiança de Bolsonaro, Ramos pode ficar com a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente comandada por Onyx Lorenzoni, conforme mostrou o colunista Lauro Jardim. O presidente quer manter Onyx no governo, mas ainda não há um local definido e outras mudanças podem ocorrer.
Amigo de Bolsonaro desde os tempos em que eram cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Ramos chegou ao governo em junho de 2019 como ministro da Secretaria de Governo (Segov), responsável pela articulação política. Em março, o general foi nomeado chefe da Casa Civil.
A mudança representa um fortalecimento do PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). A legenda não tem no momento participação no primeiro escalão, ao contrário de outras siglas do Centrão, como o PL e o Republicanos que ocupam, respectivamente, a Secretária de Governo (Flávia Arruda) e o Ministério da Cidadania (João Roma).
O fortalecimento do PP, por outro lado, pode desagradar o MDB, partido com força no Senado e com influência tanto na CPI da Covid quanto no processo de indicação de Mendonça ao STF.