Vazamento indica que governos estariam usando vírus para vigiar opositores
Uma investigação conduzida por 17 veículos de imprensa internacionais revelou que governos autoritários têm espionado opositores utilizando um vírus espião vendido pela empresa de vigilância israelense NSO Group
Uma investigação conduzida por 17 veículos de imprensa internacionais, incluindo o jornal britânico Guardian , o norte-americano Washington Post e outros 15 parceiros de mídia internacionais revelou que governos autoritários têm espionado opositores utilizando o spyware Pegasus , vendido pela empresa de vigilância israelense NSO Group.
As informações foram obtidas pelo Forbidden Stories, uma organização de mídia sem fins lucrativos com sede em Paris, e pela Anistia Internacional, por meio de um vazamento massivo de mais de 50 mil números de telefones de pessoas que foram alvos de investigação desde 2016.
O NSO Group há anos afirma que seu spyware Pegasus é usado apenas para “investigar terrorismo e crime” e “não deixa rastros de qualquer espécie”. Mas um relatório da Anistia Internacional aponta que o programa vem sendo usado para “vigilância ilegal generalizada, persistente e contínua e abusos de direitos humanos”.
Pegasus é um malware que infecta iPhones e dispositivos Android para permitir que os operadores da ferramenta extraiam mensagens, fotos e e-mails, gravem chamadas e ativem microfones secretamente.
Os dados revelados pelo vazamento detalham ataques que ocorreram de 2014 até julho de 2021. “Também incluem os chamados ataques de ‘clique zero’, que não requerem nenhuma interação do alvo”, afirma a Anistia Internacional. Uma dessas invasões chegou a burlar a segurança de um iPhone 12 totalmente atualizado executando iOS 14.6 este mês. De acordo com o relatório, o Pegasus foi usado em smartphones pertencentes a jornalistas, ativistas de direitos humanos, executivos e duas mulheres próximas ao jornalista saudita assassinado Jamal Khashoggi.
O grupo de veículos de mídia irão revelar a identidade das investigadas nos próximos dias. “Eles incluem centenas de executivos, figuras religiosas, acadêmicos, funcionários de ONGs, dirigentes sindicais e funcionários do governo, incluindo ministros de gabinete, presidentes e primeiros-ministros”, afirma o Guardian .
A relação ainda inclui dados de vários membros da família real árabe, “sugerindo que o governante pode ter instruído suas agências de inteligência a explorar a possibilidade de monitorar seus próprios parentes”. Entre os jornalistas, estão repórteres e editores do Financial Times, CNN, New York Times, France 24, The Economist, Associated Press e Reuters. Um desses nomes é o do jornalista mexicano Cecilio Pineda Birto, assassinado em março de 2017.
Em resposta, o NSO Group classificou a investigação como “exageradas e sem base”, reafirmou que não opera o spyware licenciado para seus clientes e que “não tem insight” sobre suas atividades de inteligência específicas. A empresa ainda disse que vai “continuar a investigar todas as alegações de uso indevido e tomar as medidas cabíveis”. Entre os clientes do NOS estão 60 agências de inteligência, militares e policiais em 40 países – embora a empresa não confirme a identidade de nenhum deles.
Na lista obtida pelo Forbidden Stories e pela Anistia Internacional, a maior parte dos telefones eram do México, com mais de 15 mil ocorrências, incluindo números de políticos, representantes sindicais, jornalistas e críticos do governo. Outra grande parte dos dados eram de usuários do Oriente Médio, incluindo Catar, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Iêmen.
Os investigadores reforçam, porém, que sem o exame forense dos dispositivos em questão é impossível dizer se os telefones foram submetidos a uma tentativa ou sucesso de hack usando Pegasus.