Coronel nega ter presenciado suposto pedido de propina em negociação de vacinas
Na CPI da Covid, Dominguetti apontou Alexandre Martinelli, ex-servidor da Saúde, como possível participante de encontro em restaurante
O coronel Alexandre Martinelli Cerqueira, ex-chefe da Subsecretaria de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde, negou ser a terceira pessoa que participou do jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, em que houve um suposto pedido de propina em uma negociação para a compra de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca no dia 25 de fevereiro . O militar, porém, admitiu que estava no Shopping onde fica o restaurante, mas em uma cafeteria com um colega do Exército.
Durante depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira à CPI da Covid-19 no Senado, o nome de Martinelli veio à tona quando o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) mostrou uma foto do coronel e questionou se ele seria a pessoa que se identificou como "empresário" no encontro. Os outros dois são Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, e o coronel Marcelo Blanco, que atuava no mesmo departamento.
Dominguetti assentiu que a pessoa da foto se parecia com Martinelli que esteve na reunião.
"Eu teria que vê-lo pessoalmente, viu, Excelência, mas...", disse Dominguetti, completando: "Os traços…"
Diante da insistência do senador Randolfe Rodrigues, o depoente afirmou que "teria que o ver pessoalmente para validar 100% que é a mesma pessoa".
Martinelli afirma que estava no Brasília Shopping no dia 25 de fevereiro, mas nega que tenha estado no restaurante. Ele disse que passou todo o tempo no Fran’s Café, próximo à livraria Saraiva, conversando com um major do Exército sobre investimentos financeiros, atividade que passou a exercer após passar a reserva no início deste ano.
O militar afirma ter deixado o shopping às 20h48, conforme comprovante do estacionamento. A conta da cafeteria, onde tomou um café e um suco, foi paga pelo colega. Martinelli diz que tem os comprovantes, além de uma conversa de WhatsApp com a própria filha relatando que estava encerrando uma conversa e indo embora.
O coronel admite que neste dia encontrou casualmente coronel Blanco, que estava acompanhado de uma servidora de Adriana Melo Teixeira, diretora do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde . Ele, porém, garante que não esteve com Roberto Dias nem com Dominguetti, que afirma ter conhecido apenas pela televisão nesta quinta-feira.
"Eu fiquei chateado porque eu estava no shopping. Fui olhar os gastos, porque deixo tudo registrado e eu estava lá, por coincidência, mas no local totalmente diferente. O shopping tem câmera e pode ver todos os meus passos por lá", disse o coronel ao Globo.
Martinelli disse que esteve pela primeira vez no restaurante Vasto no dia 15 de abril, em uma confraternização com o coronel Blanco e com o coronel Luiz Otávio Franco Duarte, ex-secretário de Assistência Especializada de Saúde. O advogado André Jansen também participou do almoço. Neste dia, Martinelli afirma que Roberto Dias, que ainda era diretor do Delog, estava no mesmo restaurante, mas se sentou em outra mesa com uma mulher.
Exonerado em janeiro deste ano da pasta, o coronel Martinelli ocupava o cargo de subsecretário de Assuntos Administrativos, departamento que é subordinado à Secretaria Executiva da pasta. No guarda-chuva também da Executiva está localizado o Departamento de Logística do Ministério, que é alvo de denúncias de irregularidade.
"Minha atividade no ministério não tinha nada a ver com vacina, isso não passava por mim. A minha área é atividade meio, cuidava da estrutura do ministério, manutenção predial e pagamento de pessoal", diz Martinelli.