Investigações no STF e pressões internacionais pesaram na demissão de Salles
Vitória do democrata Joe Biden nos Estados Unidos pesou para a cobrança de resultados concretos para o combate ao desmatamento ilegal no Brasil
Com a vitória do democrata Joe Biden na presidência dos Estados Unidos, cresceu a pressão internacional sobre o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Washington se uniu à União Europeia pela cobrança de resultados concretos para o combate ao desmatamento ilegal no Brasil . Ganhou robustez a mensagem de que não adiantam metas e compromissos mais ambiciosos para minimizar os efeitos do aquecimento global, se a Amazônia continua a ser devastada em números recordes de desmatamento.
Além do desmatamento da floresta, as investigações contra Salles no Supremo Tribunal Federal (STF) eram outro fator de preocupação dentro e fora do governo. O ministro era investigado por suspeitas de favorecimento a empresas do setor madeireiro — o que, segundo uma fonte, prejudicava ainda mais a imagem do Brasil no exterior.
Com a saída de Ricardo Salles do governo , a expectativa é que o Itamaraty passe a comandar, pelo Brasil, as negociações ambientais no plano internacional, sem precisar dividir a tarefa com o Ministério do Meio Ambiente. A avaliação de fontes envolvidas com o tema era que Salles atrapalhava mais do que ajudava nos debates sobre o aquecimento global, não apenas por seu estilo pouco diplomático de dialogar, mas por ser responsabilizado pelo enfraquecimento de órgãos como o Ibama e pela expansão do desmatamento da Amazônia.
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Nesta quarta-feira, ao tomar conhecimento do pedido de demissão de Salles do governo, a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Kátia Abreu (PP), comemorou. Segundo ela, a saída do ministro do Meio Ambiente "é um sinal verde para o Brasil! Espero tempos novos e alvissareiros para a Amazônia e o Brasil".
Na última terça-feira, a senadora divulgou uma nota responsabilizando Salles pelas dificuldades nas negociações com os EUA sobre clima. Ela disse que as conversas foram suspensas unilateralmente e sem justificativa pelos americanos e citou, entre os motivos, as investigações sobre Salles e a atual paralisia no desmatamento.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, a embaixada americana em Brasília ressaltou que os EUA estão comprometidos em trabalhar com nações parceiras em todo o mundo, incluindo o Brasil, no desafio global de combater as mudanças climáticas.