Presença de Braga Netto em manifestação também recebeu críticas de militares

Diferentemente de Pazuello, Braga Netto é um general da reserva e não precisa cumprir as mesmas regras. Mesmo assim, outros oficiais falam em risco de partidarização do Ministério da Defesa sob o comando dele

Foto: Beto Barata/PR - 16.2.18
Comandante Militar do Leste, o General Walter Braga Netto é é ministro da Defesa

Uma semana antes de o ex-ministro e general da ativa Eduardo Pazuello comparecer a um ato político no Rio, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, já havia participado de uma manifestação em apoio ao governo, o que também motivou críticas. Braga Netto, diferentemente de Pazuello , é um general da reserva e não precisa cumprir as mesmas regras . Entretanto, outros oficiais apontam risco de partidarização do Ministério da Defesa.

O ministro chegou ao cargo em março, após uma troca de comando conturbada na Defesa. Ele tem adotado um tom mais político, em comparação tanto com o seu antecessor, Fernando Azevedo e Silva, como com a postura mais reservada que ele próprio adotava na Casa Civil. A manifestação em que compareceu, realizada no dia 15, em Brasília, contou com diversas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Neste dia, Braga Netto discursou e manifestantes gritavam “eu autorizo”, bordão criado para manifestar apoio a uma ação do  presidente Jair Bolsonaro contra medidas restritivas de governadores e prefeitos. O grito não foi feito no discurso de outros ministros presentes. Bolsonaro já ameaçou utilizar as Forças Armadas para coibir medidas restritivas. O ministro limitou-se a falar sobre o agronegócio em sua fala e não respondeu aos gritos.

"Como ministro da Defesa, a minha opinião é que ele está partidarizando demais. Ele parece que está dando mais interesse, ou mais importância, à posição política dele, tentando usar as Forças ou pelo menos passar à sociedade a imagem de que as Forças são partidárias do presidente", avalia o general da reserva Paulo Chagas, que concorreu ao governo do Distrito Federal em 2018.

Chagas ressalta, contudo, que, apesar de discordar da postura, Braga Netto está na reserva e ocupa um cargo político, então pode “fazer o que bem entende”. Já no caso de Pazuello, o general afirma que ele “errou muito” e deu um “péssimo exemplo”, merecendo ser punido.

O ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz, general da reserva, foi outro a criticar o envolvimento de Braga Netto em protestos.

"O Ministério da Defesa é um ministério que tem uma característica muito particular, porque os componentes do Ministério da Defesa são as Forças Armadas. Por isso que não é bom o ministério da Defesa ser politizado. O ministério, nesse caso aí, ele não pode tomar partido em manifestação, seja para um lado ou seja para um outro".

No ano passado, o antecessor de Braga Netto, Fernando Azevedo e Silva, sobrevoou de helicóptero, ao lado de Bolsonaro, uma manifestação — o que também rendeu críticas na época. No caso de Braga Netto, contudo, críticos apontam que o discurso foi como um “passo além”. Braga Netto já havia acompanhado Bolsonaro antes em um passeio de moto em Brasília e também falou aos apoiadores.

Azevedo e Silva foi demitido no fim de março devido a insatisfações de Bolsonaro com sua postura. Seu sucessor, por outro lado, tem feito a defesa do governo. Em abril, na cerimônia de troca do Comando do Exército, Braga Netto afirmou que é preciso “respeitar o rito democrático e o projeto escolhido pela maioria dos brasileiros”.