Secretária de Enfrentamento à Covid-19 deixa Ministério da Saúde após dez dias

Luana Araújo é médica infectologista e deve ser substituída por outro nome de "perfil técnico", diz pasta

Foto: Reprodução/Twitter
Luana Araujo, médica infectologista à frente da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19

A secretária de Enfrentamento à Covid-19, Luana Araújo , deixou o Ministério da Saúde dez dias após ser anunciada. De acordo com nota oficial, a pasta está em busca de outro nome de perfil técnico e com atuação baseada em evidências científicas . A saída da médica é atribuída, nos bastidores, a pressões do governo que ela não teria aceitado em relação à condução da pandemia.

"O Ministério da Saúde informa que a médica infectologista Luana Araújo, anunciada para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, não exercerá a função. A pasta busca por outro nome com perfil profissional semelhante: técnico e baseado em evidências científicas. A pasta agradece à profissional pelos serviços prestados e deseja sucesso na sua trajetória", diz a nota da pasta, sem informar o motivo da saída da médica.

Araújo havia sido anunciada para o cargo no último dia 12 pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ela é formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada em epidemiologia na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

O GLOBO tentou contato com a médica, mas não obteve retorno.

Posicionamentos
No dia em que ela foi anunciada, o GLOBO mostrou que a infectologista tinha feito manifestações contrárias ao uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina no tratamento contra a doença, inclusive em pacientes com sintomas leves.

No Twitter, ela afirmou que se tratava de "neocurandeirismo" e destacou o "Brasil na vanguarda da estupidez mundial" ao comentar uma postagem de apoio ao uso da hidroxicloroquina na rede social. Depois da publicação da reportagem, a médica apagou sua conta na rede social.

Os remédios, sem eficácia comprovada para a Covid-19, são defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro e por integrantes do governo como parte do chamado "tratamento precoce" e constam, inclusive, de orientação da pasta para o atendimento aos doentes, baixada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello no ano passado.

A postagem que havia originado os comentários de Araújo é uma nota da Associação Médica Brasileira, de julho do ano passado, defendendo a autonomia do médico em prescrever a hidroxicloroquina. Em meio a mensagens de internautas parabenizando e criticando a entidade, a médica escreveu: "Neocurandeirismo. Iluminismo às avessas. Brasil na vanguarda da estupidez mundial".

Na sequência de comentários no Twitter, ao responder a um perfil que hoje aparece como suspenso na rede social, Araújo destacou, usando a sigla HCQ para hidroxicloroquina: "Feliz por você, mas não há qualquer evidência a favor (e muita contrária) à eficiência da HCQ. Seus pacientes devem ter se recuperado em função da competência de suporte de vocês, aliada à história da doença. Nada de pseudoterapia"