Plano do Ministério da Saúde era criticado e descumprido por Bolsonaro

Documento produzido em abril, já sob comando de Marcelo Queiroga, previa defender o uso de máscaras, o distanciamento social, a não aglomeração e o diálogo com estados e municípios

Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Presidente em aglomeração de apoiadores durante visita em Fortaleza (CE)

Um plano de comunicação produzido em abril pelo Ministério da Saúde, já após a chegada do novo ministro Marcelo Queiroga, indicou que a pasta planejava reforçar uma série de medidas contra o novo coronavírus que são criticadas ou descumpridas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) .

O documento, protocolado em uma ação do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, elencou uma série de “mensagens-chave” para a comunicação do ministério. Entre elas, admitia, por exemplo, a importância de se reforçar o uso de máscaras e a defesa do distanciamento social, evitando aglomerações. No plano, o ministério diz que promoveria campanhas de conscientização “junto à sociedade, onde ainda percebe-se resistência em seu cumprimento e descuido nos cuidados básicos”.

Anteontem, mais uma vez, Bolsonaro reclamou das críticas que recebe por não usar máscaras e promover aglomerações em suas agendas públicas.

"Nós, através das mídias sociais, que vai mostrar a ponte, vai mostrar a obra, e não repetir na mesma tecla que o presidente estava sem máscara na inauguração. Já encheu o saco isso, pô ", disse Bolsonaro.


"Voto de confiança"
Segundo o plano de comunicação, a mudança na pasta levou a uma abertura de espaço na imprensa ao novo ministro, e o momento seria de “um voto de confiança”. Além da promoção do uso de máscaras, o plano também sugeria a adoção de medidas para “suavizar o lockdown”. “A vacina é importante, mas o uso de máscaras é fundamental, lavar as mãos e manter o distanciamento seguro e evitar aglomerações”, diz o texto.

No mesmo discurso , Bolsonaro também destacou as manifestações realizadas por seus apoiadores em diversas cidades do país no último sábado, 1º de maio, gerando aglomeração nas principais capitais em um momento em que o nível de mortes por Covid-19 permanece alto. "Olhe o que aconteceu domingo. Sabemos que o vírus mata, lamentamos as mortes. Mas o povo foi às ruas. Temos que enfrentar o problema", disse.

Em outro ponto, o plano de comunicação do Ministério da Saúde sugere um diálogo mais aberto com governadores, prefeitos e secretários de Saúde por meio do Conass e do Conasems, conselhos que reúnem as secretarias estaduais e municipais, respectivamente.

O objetivo seria “criar um canal permanente de comunicação e relacionamento com estes líderes”, para a “promoção de um ambiente de cooperação mútua, com ações mais eficazes e direcionadas”.

Durante a pandemia, no entanto, o presidente tem antagonizado com alguns prefeitos e governadores. Anteontem, Bolsonaro criticou a decisão que garantiu a prefeitos e governadores a liberdade para decidir sobre medidas restritivas em suas regiões para conter a expansão da Covid-19 .

"O Brasil não pode ser um país condenado ao fracasso porque alguém delegou competências esdrúxulas a governadores e prefeitos", disse. E acrescentou: "Que poder é esse que foi dado a governadores e prefeitos? Isso é uma excrescência".

Além dessas frentes de ação propostas no Plano de Comunicação, o Ministério da Saúde defendeu a promoção da vacinação como a “principal marca da nova gestão” de Marcelo Queiroga. Segundo o documento, a imunização é considerada por especialistas a maneira mais eficaz de reduzir a propagação da doença.

O documento enviado à Justiça Federal do Rio Grande do Sul prevê a veiculação de sete propagandas para conscientizar a população sobre a importância da vacinação.

Um dos vídeos, previsto para ser veiculado no final do abril, entretanto, deve tratar do que o ministério chamou de “atendimento imediato”, um dos temas defendidos pelo presidente.

"Não há tratamento"
Segundo esse ponto do plano de comunicação, compete ao médico prescrever os medicamentos que entender necessários. A pasta esclarece que não há nenhum tratamento específico para bloquear o vírus.

O presidente Jair Bolsonaro tem reforçado que sempre defendeu o chamado “tratamento precoce”. Inicialmente, ele e seus apoiadores defendiam o uso de cloroquina ou de outros medicamentos sem eficácia comprovada. Recentemente, entretanto, com as críticas ao uso da cloroquina, o discurso foi remodelado e o presidente tem defendido que as pessoas procurem os hospitais logo ao começar a ter sintomas da doença.

“Hoje, não há nenhum tratamento específico para bloquear o vírus. Existe a vacina e o atendimento imediato, que se trata do acompanhamento médico logo nos primeiros sintomas e início da doença. Isso pode salvar vidas”, afirma o documento do ministério.