Governistas questionam prioridade da bancada feminina e geram bate-boca na CPI
Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, disse que o direito das senadoras a fazer perguntas foi acordado na última sessão
A sessão da CPI da Covid desta quarta-feira (05) foi interrompida temporariamente após senadores governistas questionarem o direito de a bancada feminina fazer perguntas no início da sessão mesmo sem integrar a CPI. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), havia acordado que as senadoras tivessem prioridade na oitiva de Nelson Teich, ex-ministro da Saúde.
Após indagações do relator Renan Calheiros e do vice-presidente Randolfe Rodrigues, Omar Aziz abriu espaço para pergunta de uma representante da bancada feminina. A escolhida foi a líder do Cidadania, Eliziane Gama (MA). No início da fala da senadora, o governista Ciro Nogueira (PP-PI) reclamou e disse que "não concordou com nada disso".
Nogueira argumentou que o direito à fala da bancada feminina não está previsto no regimento do Senado. Aziz concordou com isso, mas disse que havia cedido o direito à fala das senadoras por acordo na última sessão.
"Se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa", disse Ciro.
Omar rebateu:
"A única diferença nesse momento é que fomos indicados para uma comissão. Eu quero fazer um apelo, teremos uma reunião após ouvir o doutor Teich e só peço para conversarmos".
Ciro disse que aceitaria apenas hoje, mas que não "queria ficar como vilão" porque o acordo não respeitava o regimento. Normalmente, aqueles que não compõem a CPI ficam para o final.
Eliziane reagiu:
"Eu só não entendo por que tanto medo das vozes femininas".
Ciro emendou:
"O senhor está vendo? As pessoas querem dar outra versão, como se estivéssemos perseguindo as mulheres. Quem está perseguindo as mulheres é o seu partido que não lhe indicou, senadora".
Quando a comissão foi formada, o filho do presidente da República, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), afirmou que "as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas" ao comentar a falta de representação feminina na CPI. Eliziane Gama rebateu e disse que não iria admitir " ironia machista " contra as mulheres.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também estava presente na sessão desta quarta (05) e defendeu a possibilidade de as mulheres falarem, argumentando que não se tratava de um privilégio, e sim de algo acordado com os senadores.
"Há uma grande diferença de privilégio e prerrogativa. Privilégios são inadmissíveis e as mulheres nunca irão pleitear, prerrogativa é diferente. Pedimos ao plenário dessa comissão ontem para ter direito de fala na lista dos titulares e dos suplentes", disse Simone Tebet, líder da bancada feminina.
Simone afirmou que o tema foi deliberado ontem, mas que alguns senadores não estavam presentes. Ciro discursou e a discussão se intensificou.
Assim como Ciro, os governistas Marcos Rogério (DEM-RO) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) se manifestaram contra a participação das mulheres. Rogério sugeriu que a participação feminina seria usada para atacar Bolsonaro .
O presidente da CPI, Omar Aziz, suspendeu a sessão em razão da confusão, dizendo que agora eles poderiam brigar à vontade. Em seguida, ele retomou os trabalhos e pediu desculpas ao depoente, Nelson Teich, pelo bate-boca.
Eliziane chamou atenção que a concessão foi colocada porque não há nenhuma mulher entre os 18 integrantes na comissão. Ela chegou a sugerir que o Senado avalie a possibilidade de a bancada feminina ter direito a indicar pelo menos um membro nessas situações para garantir representatividade.
"Não é concessão, não, é compensação", disse Renan Calheiros durante as discussões.