Estados criticam Bolsonaro por fala de uso das Forças Armadas contra restrições

Presidente se manifestou contra resposta dada por governadores e prefeitos à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus

Foto: Alan Santos/PR
Presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao apresentador Sikêra Júnior, na TV A Crítica

Governadores e políticos de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido) criticaram neste sábado (24) as declarações dadas pelo presidente durante entrevista à TV A Crítica , do Amazonas. Bolsonaro disse considerar a hipótese de as Forças Armadas irem às ruas para garantir a ordem caso a política de medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores contra a Covid-19 promova o que chamou de "caos" .

Na entrevista, o presidente afirmou que, se preciso, o Exército será convocado para "restabelecer todo o artigo 5º da Constituição", que faz referência aos direitos individuais da população, como o de ir e vir ou a liberdade religiosa.

"A postura demonstra mais uma vez o quanto Bolsonaro tem devoção pelo autoritarismo e alergia a democracia. Ele selou uma pacto com a morte que só não é maior no Brasil por conta da ação de governadores e prefeitos", afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que a ameaça de Bolsonaro de usar as Forças Armadas nas ruas é "absurda". Ele lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) deu o aval, desde abril do ano passado, para que governantes adotassem medidas restritivas durante a pandemia.

"Bolsonaro insiste em afrontar o Supremo, que já decidiu que as três esferas de governo podem e devem atuar contra o coronavírus. E também reitera essa absurda ameaça de intervenção militar contra os estados, que não existe na Constituição. Ele deveria se dedicar mais ao trabalho e abandonar essas insanidades", declarou o governador.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), criticou o presidente por tentar tirar o foco do que é importante para o Brasil, a compra de vacinas para o combate à pandemia. Ele cobrou que a imunização está atrasada e que Bolsonaro deve cumprir sua "responsabilidade" no enfrentamento da crise.

"Se o presidente quer que abra o comércio, só ele vacinar mais rápido. Só ele dar conta do cumprir a responsabilidade dele, que é compra vacina", disse Ramos. "Ele (Bolsonaro) não tem que bater em governadores, tem que comprar vacina. Eu não falo com presidente sobre outra coisa que não seja vacina, kit de intubação e oxigênio", completou.

O líder de oposição da Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ressalta que desde o início da pandemia o presidente "sabotou as medidas restritivas" e tentou jogar a população e as Forças Armadas contra governadores e prefeitos. Para ele, Bolsonaro é o principal fator para que o "caos se instale no país".

"Mais uma vez, Bolsonaro viola os deveres e limites de seu cargo e afronta a Constituição. Já passou da hora de o Congresso processá-lo por seus crimes de responsabilidade. Enquanto não se fizer isso, ele vai continuar agindo assim", afirmou Molon.

Em rede social, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também criticou as declarações do presidente sobre colocar as Forças Armadas nas ruas. "Mais uma vez o presidente humilha e rebaixa as Forças Armadas ao tratá-las como se fossem uma milícia pessoal a seu serviço na guerra declarada contra adversários políticos do governo", postou o deputado.

Militares também ficaram incomodados

Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, a frase de Bolsonaro também pegou mal no meio militar. Para integrantes da cúpula das Forças Armadas, Bolsonaro confunde conceitos e usa sua posição de forma política, para pressionar adversários.