Esquerda faz pacto com "bolsonaristas arrependidos" por impeachment de Bolsonaro
Alexandre Frota (PSDB-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) se uniram a PT, PSOL e outras siglas de oposição para articular pela queda do presidente
Rompidos com Jair Bolsonaro (sem partido) desde 2019, os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) concordaram em unir forças com lideranças de partidos de esquerda, como PT e PSOL, pelo impeachment do presidente. A ideia é unificar os mais de 100 pedidos de afastamento numa única proposta, que deve começar a ser desenhada nos próximos dias.
O encontro virtual, realizado na tarde desta sexta-feira, foi convocado pelo Fórum dos Partidos de Oposição, organizado por PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, Rede, Cidadania, PV e UP. Também participaram representantes de organizações da sociedade civil, como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
As lideranças deixaram a reunião com a promessa de formar um grupo de trabalho na próxima semana para montar um "calendário de mobilizações" pelo impeachment. O cronograma dessa "campanha nacional pelo impeachment" deve abranger protestos virtuais enquanto durar a pandemia, divulgações de manifestos a favor da causa e pressão para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), pela abertura do processo.
Joice Hasselmann, que se afastou do presidente após ter sido vítima de uma campanha de ataques virtuais contra si, incentivada por Jair Bolsonaro e os filhos, disse que tentou focar na questão suprapartidária para que a aliança possa avançar até seu objetivo. Ela classificou a reunião como "ótima".
"Precisamos deixar nossas diferenças ideológicas para a época da eleição e trabalhar para tirar o inimigo do país do poder. Ficou marcado de fazermos juntos um manifesto e também a convocação de um ato. Claro, cada um falando com seu público, mas unificando a ideia para mobilizar o país", disse ela.
Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o maior desafio para fazer prosperar o impeachment de Bolsonaro é a mobilização social em meio a uma pandemia em que o distanciamento social é a palavra-chave. Durante o processo de afastamento da então presidente Dilma Rousseff, manifestações de rua nas principais capitais do país foram importantes para pressionar o Congresso.
Os participantes dizem acreditar, no entanto, que o modo com que o presidente vem lidando com a pandemia pode fortalecer a causa. A gestão de Bolsonaro na crise sanitária foi considerada ruim ou péssima por 54% dos brasileiros em março, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha. Aqueles que avaliavam a gestão como ótima ou boa eram 22%.
"A articulação na Câmara para aumentar a possibilidade do impeachment só vai acontecer se houver uma pressão social. Se não tiver, é difícil. A maioria (dos participantes do encontro) acha que não temos que chamar atos (de rua). Alguns colocaram que teríamos que ter atos diferenciados. Mas todo mundo sabe que mobilização social é importantíssima", declarou Gleisi.
O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) disse ter visto muita disposição em Frota, Joice e Kataguiri em "olharmos para aquilo que nos une e não para aquilo que nos afasta", apesar das diferenças ideológicas entre o trio e os partidos de esquerda, de quem são rivais em plenário.
"Ninguém tratou de nossas divergências sobre o papel do Estado na economia. O assunto foi a necessidade de livrar o Brasil de Bolsonaro para salvar a vida dos brasileiros", afirmou Molon.