Políticos criticam projeto de líder do PSL que amplia poderes de Bolsonaro

A proposta abriria o caminho para Bolsonaro atuar em "espaço geográfico" definido no combate à pandemia, o que tiraria a autonomia de governadores e prefeitos para decretarem medidas de combate à crise. Ao iG, a assessoria do deputado Marcelo Freixo disse que a proposta foi "criada por fanáticos"

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Deputado bolsonarista Major Vitor Hugo (PSL)

O líder do PSL na Câmara dos Deputados, Major Vitor Hugo (GO) , tenta emplacar nesta terça-feira (30) o dispositivo de Mobilização Nacional, um projeto que amplificaria os poderes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia e esvaziaria o de prefeitos e governadores.

Major Vitor Hugo e Hugo Mota (Republicanos-PB) assinaram um pedido para que a proposta tramite em urgência na Câmara. A rejeição na Casa foi grande.

Ao  iG , o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse que o projeto é "inconstitucional" e que, por isso, não será votado.

"O objetivo de Bolsonaro não é e nunca foi combater a pandemia, ele quer se aproveitar a crise para estabelecer um estado de exceção. É uma proposta de fanáticos que sempre desprezaram a vida", disse, por meio de sua assessoria.

Além de Freixo, figuras como o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Kim Kataguiri (DEM-SP), Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Jorge Solla (PT-BA) e Fábio Trad (PSD-MS) rechaçaram a proposta nas redes sociais.

"Bolsonaro está cada vez mais parecido com Chávez e Maduro. Logo mais começam a expropriar. E muita gente, na elite principalmente, acha que é uma opção contra o PT. É muito mais do que isso. Um autoritário sempre será autoritário", disse Maia.

Os líderes do MBL (Movimento Brasil Livre) Arhur do Val (Patriotas-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) também se manifestaram.

"Ao mesmo tempo que a Câmara consegue assinaturas para a urgência de um projeto que abre espaço para o golpe de Bolsonaro, os três comandantes das Forças Armadas anunciam que vão deixar seus cargos. Sinais ruins demais para a democracia", disse Kataguiri .

"Comandantes de exército, marinha e aeronáutica trocados um dia após trocar o Ministro da Defesa. Ex-Ministro da Defesa saindo porque presidente queria apoio para Estado de Sítio. Aprovado no Colégio de Líderes a pandemia como mobilização naciona. O Brasil fede a golpe!", disparou Arthur do Val.

Fábio Trad , deputado federal pelo Partido Social Democrático (PSD), diz que a Mobilização Nacional não foi criada para disciplinar crise sanitária, mas situação de guerra. "O PL 1074/2021 pode ser manipulado para a inadmissível tentativa de concentração absoluta de poderes por parte do Executivo, excluindo governadores e prefeitos do combate à pandemia", complementa o deputado.


O que diz o decreto de mobilização nacional na pandemia

O texto diz que esse estado pode ser decretado pelo Executivo caso haja autorização do Congresso,ou decretado e apenas referendado pelo Legislativo, se for no período de recesso.

Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre a Mobilização Nacional a que se refere o inciso XIX do caput do art. 84 da Constituição Federal e cria o Sistema Nacional de Mobilização – SINAMOB.

Art. 2o  Para os fins desta Lei, consideram-se:

I – Mobilização Nacional o conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, complementando a Logística Nacional, destinadas a capacitar o País a realizar ações estratégicas:

  • a) no campo da Defesa Nacional, diante de agressão estrangeira;
  •  b) no campo da Saúde Pública, diante de situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente de pandemia; e
  • c) no campo da Defesa Civil, diante de catástrofes de grandes proporções, decorrentes de eventos da natureza combinados ou não com a ação humana.

Para o projeto ser aprovado, é necessário que haja maioria dos votos dos deputados presentes na sessão para serem aprovados na Câmara, além de maioria no Senado. Caso aprovado nas duas Casas, segue para sanção presidencial.