Bolsonaro "está atrasado e distorce fatos" em discurso, criticam prefeitos
Frente Nacional dos Prefeitos afirma que presidente e governo vem tomado "erráticas decisões" durante pandemia
A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) divulgou uma nota nesta quarta-feira (24) com críticas ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) , veiculado na noite de terça (23) em cadeia nacional, no qual ele se solidarizou com as vítimas do novo coronavírus (Sars-Cov-2).
Para a entidade, "a declaração do presidente está muito atrasada" diante da escalada de mortos e doentes e "faria algum sentido há seis ou oito meses". "Agora, se apresenta como um discurso vazio e não expressa confiança", diz a nota.
A entidade assinala que Bolsonaro "distorceu os fatos e posições do governo federal durante a pandemia" e deixou de falar sobre temas importantes atualmente, como "lockdown, isolamento, escassez de medicamentos e de oxigênio".
Para a FNP , o governo vem tomando "erráticas decisões", como, por exemplo os "repetidos argumentos contrários às vacinas" proferidos por Bolsonaro em um passado recente, e a falta efetiva de compra de vacinas.
"Somente no consórcio global Covax Facility, o Brasil optou apenas pela compra da cota mínima (10% da população), quando seria possível contar com pelo menos quatro vezes mais (40% da população)", aponta a entidade.
Federalismo de conveniência
A FNP também criticou a reunião de Bolsonaro nesta quarta(24) com lideranças políticas do país, dentre eles, governadores, presidentes da Câmara, do Senado e do STF, para tratar da pandemia, sem convidar prefeitas e prefeitos, que são os responsáveis pela aplicação das vacinas.
"Essa parece ser uma ideia de federalismo de conveniência", afirmou a entidade.
"Além disso, o cenário brasileiro atual não condiz com o que descreve o presidente. É importante ressaltar que as novas cepas não são as causas do descontrole no país. O descontrole é que acelera o surgimento de variantes do vírus. De cada dez brasileiros imunizados, nove são com vacinas que ele não só menosprezou, como rechaçou", diz a FNP, referindo-se ao imunizante Coronavac , produzido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
A vacina foi menosprezada por Bolsonaro por estar vinculada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), já que o Butantan, ligado ao Executivo paulista, é o fabricante da vacina.
"O Brasil e os brasileiros estão abandonados pelo governo federal. Muitos nas suas casas, nos leitos dos hospitais e outros tantos, infelizmente, nos morgues das casas de saúde ou em covas coletivas. É lamentável, mas o cenário de enfrentamento à pandemia da COVID-19 tomou contornos catastróficos, levando o país ao epicentro sanitário mundial", diz a entidade na nota.
A FNP ainda enfatizou como falsa a contraposição que Bolsonaro tenta fazer, desde o início da pandemia , entre medidas de saúde e econômicas.
"Evidentemente que as consequências econômicas e sociais da pandemia são visíveis, mas as atitudes governamentais empurram para um cenário ainda pior. Controlar a pandemia é que proporcionará a retomada econômica", aponta o comunicado. E finaliza: "Para isso, é dever da União prover uma ajuda aos pequenos empresários e a retomada do auxílio emergencial. Nunca como esmola, mas como uma urgência de permitir a subsistência no isolamento social. Não há escolha entre a vida e a economia. Mortos não produzem e não consomem. É preciso salvar os cidadãos para salvar o país".