Câmara mantém processo de Silveira por ataques a manifestantes "antifascistas"
Além de usar palavrões para se referir aos manifestantes, o deputado disse torcer para que um dos opositores tomem um tiro
Nesta segunda-feira (22), o Conselho de Ética decidiu dar seguimento ao processo disciplinar contra o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) por vídeo com falas contra manifestantes críticos ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), identificados como antifascistas .
A decisão de seguir o parecer favorável à continuidade do processo elaborado pela relatora do caso, a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), foi tomada por 11 dos 13 deputados votantes no colegiado. Outros dois foram contrários ao seguimento do processo e ninguém se absteve.
Em uma publicação do Twitter após a manifestação do dia 31 de maio de 2020, Silveira usou diversos palavrões para se referir aos manifestantes. O deputado também disse haver muitos policiais armados participando de atos em defesa do governo, e afirmou torcer para que um dos opositores tome um tiro "no meio da caixa do peito".
"Até que vocês vão pegar um polícia [sic] zangado no meio da multidão, vão tomar um no meio da caixa do peito, e vão chamar a gente de truculento", disse. "Eu tô torcendo para isso. Quem sabe não seja eu o sortudo. Vocês me peguem na rua em um dia muito ruim e eu descarregue minha arma em cima de um filho da p*** comunista que tentar me agredir. Vou ter que me defender, não vai ter jeito. E não adianta falar que foi homicídio, foi legítima defesa. Tenham certeza: eu vou me defender", acrescentou.
Os partidos Rede, PSOL e PSB apresentaram representação contra Silveira no Conselho de Ética em que pedem a cassação do mandato dele. "O deputado Daniel Silveira, em rápido apanhado, usou de um discurso antidemocrático e contra as instituições da República, atacou manifestantes pela mera manifestação do pensamento, propôs projeto de lei contrário às regras fundantes da Constituição e demonstra desprezo geral por minorias, o que configura a inevitável quebra de decoro parlamentar", escreveram em um trecho da representação.
A partir de agora, Daniel Silveira terá 10 dias úteis para apresentar uma defesa por escrito, indicar provas e chamar até oito testemunhas. Depois, um novo parecer deve ser elaborado e votado pelo Conselho de Ética. Na reunião desta segunda, Silveira alegou não ter atacado ninguém e disse que a fala foi tirada de contexto. Ele ainda afirmou não ter como provar isso já que suas contas nas redes sociais foram bloqueadas por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) após ele ter sido preso em fevereiro deste ano.
Quando foi se defender, o deputado disse que a quebra de decoro parlamentar está sendo relativizada na Câmara e argumentou não adiantar muito ele falar, porque há um "oportunismo político gigantesco" por parte de partidos da oposição. O advogado de Silveira mencionou a imunidade parlamentar e afirmou que não se pode impedir as opiniões de parlamentares. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) disse que liberdade de expressão não deve ser confundida com liberdade de "opressão".