“O pai vai deixar?”, questiona Deltan sobre indiciamento de Flávio Bolsonaro
Em conversas pelo Telegram, chefe da Lava Jato suspeita que Jair Bolsonaro poderia querer blindar filho nas investigações da rachadinha
O chefe da Operação Lava-Jato no Ministério Público , Deltan Dallagnol, questionou se o presidente Jair Bolsonaro blindaria o filho, senador Flávio Bolsonaro , nas investigações sobre o caso das rachadinhas . Em conversas no Telegram, Dallagnol conversa com procuradores sobre a defesa do presidente sobre os depósitos de R$ 89 mil em uma conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, feito por Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador. Na época, Jair Bolsonaro afirmou que Queiroz havia feito um empréstimo com o presidente e que tinha quitado sua dívida.
Nos diálogos, obtidos pela CNN Brasil , o procurador afirma abre uma discussão no grupo sobre as ações do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro , no caso. O chefe da Lava-Jato questiona sobre a situação de Moro até a abertura de uma vaga no Supremo Tribunal Federal .
“Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos? Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, afirmou.
“Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse”, concluiu.
Após a divulgação das investigações contra Flávio Bolsonaro, Deltan Dallagnol pergunta será haverá apoio do Governo Federal ao pacote anticrime proposto por Moro. O Palácio do Planalto vetou vários trechos do projeto do então ministro, o que causou desavenças com Jair Bolsonaro.
“Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupção se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”
Confira os diálogos
Deltan Dallagnol envia uma notícia com a manchete “Bolsonaro diz que ex-assessor tinha dívida com ele e pagou a primeira-dama”.
Deltan Dallagnol: “Coaf com Moro. Aiaiai”
Januário Paludo: “Lembra de algo Deltan? Aiaiai.”
Jerusa Viecili: “Falo nada ... Só observo ??”
Deltan Dallagnol: “Kkk. É óbvio o q aconteceu... E agora, José?”
Deltan Dallagnol: “Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos? Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”
Deltan Dallagnol: Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa. Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse”.
Deltan Dallagnol: “Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.”
Deltan Dallagnol: “Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupção se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”
Retorno dos envolvidos
A CNN Brasil afirmou que tentou contato com defesa de Flávio Bolsonaro e o Palácio do Planalto, mas ainda não se pronunciaram sobre os diálogos.
Os procuradores da Lava-Jato emitiram uma nota (confira abaixo) em que "reafirmam que não reconhecem a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas”.
O texto ainda afirma que as mensagens podem ter sido editadas ou tiradas de contexto, além de ressaltar que há falsas acusações contra a operação.
1. Os procuradores da República que integraram a força tarefa Lava Jato reafirmam que não reconhecem a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas. Os supostos diálogos constantes nessas mensagens, editados, descontextualizados e deturpados, vêm sendo utilizados de forma deliberada e sistemática para fazer falsas acusações contra a operação, sem correspondência na realidade, por pessoas movidas por diferentes interesses que incluem a anulação de investigações e condenações.
2. No caso específico, ainda que os diálogos tivessem ocorrido da forma como apresentados – embora não se reconheça o seu conteúdo, seja pelo tempo, seja pela ordem em que são apresentados, seja pelo conteúdo – as mensagens sobre as investigações envolvendo o presidente mostrariam apenas comentários sobre notícias publicadas na imprensa.
3. Ao longo dos anos, integraram a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná mais de vinte procuradores, com diferentes visões de mundo e sem qualquer histórico de vinculação político-partidária, os quais, inclusive, votaram de maneira bastante diferente nas eleições presidenciais, e sempre trabalharam em harmonia a fim de prestar para a sociedade um serviço público relevante por meio de um trabalho técnico. Cumprindo seu dever, a força-tarefa reuniu informações sobre crimes praticados por políticos alinhados a todo o espectro ideológico e sempre adotou as providências cabíveis, seja processando-os quando tinha atribuição, sendo enviando as informações para a instância competente. Logo, evidente que não houve qualquer atuação da Lava Jato com finalidade política ou ideológica, menos ainda com o fim de interferir em eleição.
4. Assim como todo cidadão brasileiro à época, procuradores podem ter manifestado opiniões, em grupo fechado, sobre os resultados das eleições presidenciais, o que de forma alguma denotaria parcialidade ou tentativa de interferência no processo eleitoral.