Veteranos da Alesp irão decidir futuro de deputado acusado de assédio

Deputados estaduais acreditam que Fernando Cury deve receber ao menos quatro votos por absolvição ou punição branda no Conselho de Ética, que tem nove integrantes

Foto: Divulgação/Alesp
Deputado Estadual Fernando Cury (Cidadania)

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) começará a analisar na próxima semana o caso do deputado Fernando Cury, flagrado apalpando a deputada Isa Penna (PSOL) dentro do Plenário no final do ano passado. E a decisão, provavelmente, caberá a dois do deputados mais veteranos da casa: Barroz Munhoz (PSB), de 76 anos, e no seu sexto mandato, e Campos Machado (AVANTE), de 81 anos, no seu nono mandato.

O Conselho de Ética é formado por nove deputados. Qualquer decisão pela absolvição, advertência, suspensão ou até cassação de Cury precisaria de maioria do apoio de cinco deputados. Para parlmentares, Munhoz e Campos Machado serão o fiel da balança no jogo de forças dentro do Conselho.

Deputados entrevistados acreditam que, dentro do Conselho, se formará um grupo de quatro deputados que defenderá ou a absolvição ou uma punição mais branda para Cury. O grupo seria formado pelos deputados Adalberto Moura (PSL), Delegado Olim (PP), Wellington Moura (Republicanos) e Alex de Madureira (PSD).

Para os parlamentares, mesmo que o grupo não seja ideologicamente coeso, os quatro deputados são vistos como mais próximos de Cury no plenário. Madureira, que é o vice-presidente do Conselho, por exemplo, é o deputado que aparece nas imagens conversando com Cury pouco antes dele ir em direção a Isa Penna.

Além deles, o Conselho de Ética também é formado por dois deputados de esquerda: Carlos Giannazi, do PSOL, e Emídio de Souza, do PT. É possível que Giannazi deixa o Conselho para abrir espaço para sua suplente, Érica Malunguinho, para abrir espaço para mais uma mulher no Conselho. Dos nove deputados que fazem parte da comissão, apenas uma é mulher: a presidente do Conselho, Maria Lúcia Amary (PSDB).

Deputados que defendem a cassação trabalham com a expectativa de que Amary seja a favor de algum tipo de punição, sobretudo pela pressão que deve ocorrer por parte de outras deputadas mulheres em relação ao caso.

Para formar a maioria por uma punição, entretanto, ainda seria necessário atrair Barros Munhoz e Campos Machado, dois dos mais antigos na casa. Por enquanto, eles não se pronunciaram publicamente de forma favorável ou contrária a alguma punição.

"Eu sou advogado e fiel ao Direito. Acredito que todo mundo tem o direito de se defender. O processo tem a acusação e tem a defesa. Agora, é lógico que é uma acusação grave e a aparência é gravíssima. O mais importante é que seja um processo rápido, diferente do que é no Congresso e no Judiciário, e que se cumpra todos os trâmites", afirmou Barros Munhoz.

Segundo o deputado, é preciso que os integrantes do Conselho consigam evitar tomar decisões baseadas em fatores políticos no caso. Munhoz, entretanto, admite que sua posição e a de Campos Machado, terá influência no caminho que o julgamento deverá seguir, além de destacar que ambos são advogados.

"É natural. Somos os dois mais antigos da casa. Eu entrei em 1986 na Assembleia Legislativa e ele, se não me engano, entrou em 1989. A gente tem mais experiência, mais vivência, já enfrentamos situações específicas e complexas aqui", afirmou.

Participando de sua nona legislatura na Assembleia Legislativa, Campos Machado mudou recentemente de partido. Após décadas no PTB, agora está no Avante, exatamente por discordâncias com o presidente nacional da sigla, Roberto Jefferson, que vem se aproximando cada vez mais do governo Jair Bolsonaro. Seu voto, assim como o de Barros Munhoz, ainda é uma incógnita.

O relatório produzido no Conselho de Ética, que irá recomendar ou não uma punição para Cury, terá que ser votado no Plenário. O processo deverá começar no próximo dia 1, quando os deputados retornarem do recesso.

Cury foi afastado pelo Cidadania em dezembro, logo após o caso vir à tona, no dia 16. O conselho de ética da legenda pediu, em relatório, sua expulsão do partido, mas o processo disciplinar foi paralisado em 13 de janeiro por decisão da Justiça do Distrito Federal.

Cury nega ter assediado Penna e entende não ter violado o decoro parlamentar.