Governo reconhece oferta da Pfizer por vacinas, mas vê acordo "frustrante"
Saúde alega que 2 milhões de doses, igual ao total importado pela Fiocruz, seria uma quantidade pequena para o primeiro trimestre
O governo divulgou nota neste sábado (23), por meio do Ministério da Saúde e do Palácio do Planalto, reconhecendo que recusou tentativas iniciais da Pfizer de avançar nas negociações na compra de vacinas para a população brasileira. Segundo a pasta, um acordo com a fabricante norte-americana "causaria frustração em todos os brasileiros", então a solução do governo foi não comprar as doses das vacinas que imunizariam mais uma parcela dos integrantes do grupo prioritário do plano nacional de vacinação.
O motivo da recusa brasileira à Pfizer seria a baixa quantidade de vacinas que a fabricante conseguiria entregar ao Brasil no primeiro trimestre, dois milhões de doses, "número considerado insuficiente pelo Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde.
As duas milhões de doses que seriam importadas das vacinas produzidas em parceria entre a Pfizer e a BioNTech, no entanto, representariam exatamente a mesma quantidade que foi importada pela Fiocruz da vacina de Oxford/AztraZeneca e chegou ao Brasil na última sexta-feira (22) com direito a muita celebração do governo brasileiro .
Ainda assim, o Ministério da Saúde diz que as doses da Pfizer "seriam mais uma conquista de marketing, branding e growth para a produtora de vacina, como já vem acontecendo em outros países".
"Já para o Brasil, causaria frustração em todos os brasileiros, pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina", informa a nota divulgada pelo MS e pelo Palácio do Planalto.
O posicionamento do governo se dá após a CNN Brasil divulgar carta encaminhada pelo CEO mundial da Pfizer , Albert Bourla, ao presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros em 12 de setembro .
O documento encaminhado pelo CEO da Pfizer cobrava rapidez do governo brasileiro para fechar o acordo para compra de vacinas diante da alta demanda mundial pelo imunizante. "Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020", dizia a carta de Albert Bourla , segundo a CNN Brasil.
O governo reconhece que recebeu a carta e fez reuniões com a Pfizer, mas diz que "cláusulas leoninas e abusivas que foram estabelecidas pelo laboratório criam uma barreira de negociação e compra".
Entre os termos, estão que o Brasil fizesse um fundo garantidor em conta no exterior e que assinasse um termo que isentasse a fabricante de responsabilidade por eventuais efeitos da vacina, de onde surgiu a fala de Bolsonaro sobre pessoas virarem jacarés depois de receberem as doses .
Em nota, o governo fala sobre os motivos que o levaram a não assinar o acordo pelas duas milhões de doses da Pfizer no primeiro trimestre, mas não cita que o total negociado junto à empresa era de 70 milhões de doses . Segundo o comunicado, "representantes da Pfizer tentam desconstruir um trabalho de imunização que já está acontecendo em todo o país, criando situações constrangedoras para o governo brasileiro, que não aceitarão [sic] imposições de mercado".
O governo diz que "em nenhum momento fechou as portas para a Pfizer", mas aguarda "posicionamento diferente do laboratório". Por outro lado, a nota cita as dificuldades de importar as vacinas da Pfizer, que também teriam impacto no momento de decidir ou não comprar os imunizantes.
"Merece destaque o fato de que, além dos aspectos já citados, é a única vacina que precisa ser armazenada e transportada entre -70ºC e -80ºC , prevendo um intervalo de três semanas entre primeira e segunda doses. Além disso, o laboratório não disponibiliza o diluente para cada dose - que ficaria a cargo do comprador", diz a nota do governo.
A Pfizer indica que só deverá usar pedir autorização para uso emergencial no Brasil em caso de acordo com o governo, o que não parece se aproximar. Até o momento, o país tem, segundo o Executivo, contratos já obtidos de compra de 354 milhões de doses de vacinas . Porém, ignora o fato de que boa parte depende da liberação de insumos da China para que o Brasil possa produzir as doses.