Cadê Queiroz? Relembre investigação das rachadinhas envolvendo Flávio Bolsonaro

Retrospectiva 2020: ex-assessor do filho do presidente foi preso em Atibaia (SP) na casa de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro

Flávio Bolsonaro ao lado do ex-assessor, Fabrício Queiroz
Foto: Reprodução
Flávio Bolsonaro ao lado do ex-assessor, Fabrício Queiroz

Denunciado pelo Ministério Público e PGR e prisão do assessor Fabrício Queiroz: 2020 foi o ano em que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) viu as acusações sobre as “ rachadinhas ” em seu gabinete ganharem força e prejudicarem todo o clã-Bolsonaro.


Denúncia das rachadinhas


A investigação contra Flávio foi iniciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) em 2018 após um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras ( Coaf ) identificar uma movimentação suspeita na conta de Fabrício Queiroz , que na época trabalhava como assessor e motorista do político - deputado estadual pelo Rio entre 2003 e 2019.

Segundo o relatório, durante um período de 11 anos, R$ 2 milhões foram depositados na conta de Queiroz por outros 13 assessores. Para o MP, esse dinheiro era "lavado" e retornava para o filho do presidente.

Segundo o MP, Queiroz era o operador deste esquema das “rachadinhas”. Além dele, a mulher e duas filhas trabalhavam como assessoras na Assembleia Legislativa do Rio até as primeiras denúncias começarem a aparecer.

Apontado como líder da organização criminosa , Flávio Bolsonaro tem uma loja de chocolates na qual é sócio e que, segundo dados, recebeu aportes financeiros maiores do que o faturamento. Além disso, investidores venderam salas comerciais para o senador a preços abaixo do mercado, que futuramente, foram revendidas a preços muito maiores, dando lucro.

No dia 19 de outubro, o procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, denunciou Flávio e Queiroz à Justiça pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“Cadê o Queiroz?’

Exonerado do cargo de assessor em outubro de 2018,  Fabrício Queiroz desapareceu. Questionado sobre seu paradeiro, Frederick Wassef , advogado da família Bolsonaro, e o próprio Flávio alegaram não saber onde ele estava - e que não mantinham mais contato com ele. 

"Não o vejo há muito tempo, não falo com ele há muitos anos. Qualquer contato meu com ele pode ser entendido pela Justiça como uma tentativa de obstruir alguma coisa. Então, tenho de tomar cuidado triplicado para evitar que algum mal-entendido aconteça", disse o filho do presidente em entrevista à Revista Época em 2019.

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O advogado foi em uma linha parecida. Em entrevista à GloboNews em setembro do ano passado, disse que não sabia onde Queiroz estava, já “que não era advogado dele”. 


A prisão

No dia 18 de junho de 2020, Fabrício Queiroz foi preso na cidade de Atibaia , no interior de São Paulo pela polícia após a Justiça do Rio expedir mandado de prisão preventiva, alegando que o assessor estava fugindo e interferindo na coleta de provas.

Desde julho, Queiroz e a mulher Márcia cumprem prisão domiciliar . O STJ chegou a revogar a prisão, para que fosse convertida para a de cela comum, mas o ministro Gilmar Mendes concedeu um habeas corpus ao casal, que continua cumprindo a medida.

A casa onde Queiroz estava quando foi preso pertencia a Wassef, advogado de Bolsonaro que, dias depois, alegou, sem apresentar provas, ter informações de que Queiroz seria assassinado . E que, sensibilizado com a história - já que tratava um câncer - resolveu obrigá-lo. Mas que a família Bolsonaro não tinha conhecimento. Por conta disso, o advogado deixou a defesa de Flávio.

Relatório da Abin


Em dezembro, uma denúncia apresentada pela Revista Época trouxe a informação de que a Agência Brasileira de Inteligência ( Abin ), o serviço de inteligência do governo,  produziu dois relatórios para orientar advogados de Flávio Bolsonaro na tentiva de anular o inquérito das "rachadinhas ".

“Defender Flávio Bolsonaro no caso Alerj, demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais dele”, diz trecho do relatório.

Além disso, a revista trouxe outro dado: a nova advogada de Flávio Bolsonaro, Luciana Pires , atribuiu os relatórios ao diretor da Agência, Alexandre Ramagem e que se recusou a seguir as recomendações passadas. A Abin negou as acusações.

A ministra do Supremo Tribunal Federal ( STF ), Cármen Lúcia , determinou no dia 18 de dezembro que a Procuradoria-Geral da República ( PGR ) investigue se a Abin, um órgão governamental, foi usada para orientar a defesa do filho do presidente. ”Fatos graves”, disse a ministra em sua decisão.

No olho do furacão, o senador enfrenta graves acusações que reverberam no Palácio do Planalto. E que, caso comprovadas, podem levar a desdobramentos maiores do que somente sua condenação.