Witzel ataca MPF em defesa contra impeachment no tribunal misto

Documento fala em "devaneios ficcionais" da investigação, que teriam influenciado decisão da Alerj

Governador afastado do Rio de Janeiro Wilson Witzel
Foto: Carlos Magno/Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador afastado do Rio de Janeiro Wilson Witzel


O governador afastado do Rio, Wilson Witzel, voltou a criticar as investigações do Ministério Público Federal (MPF) que apuraram desvios na saúde estadual e foram das decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que o retiraram do cargo no mês de setembro .


A defesa entregue nesta segunda-feira (19) ao Tribunal Especial Misto, que dará a palavra final sobre a cassação de Witzel, afirma que a investigação se baseou em "devaneios ficcionais" para afirmar que as ações do governador afastado teriam beneficiado o empresário Mário Peixoto.

As investigações do MPF no âmbito da operação Tris In Idem resultaram no afastamento judicial de Witzel pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em agosto, e são a base do relatório favorável ao impeachment aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em setembro.

No documento, de 49 páginas, a defesa do governador afastado argumenta que Witzel não teve qualquer relação com a contratação da Organização Social (OS) Iabas para a construção e gestão de sete hospitais de campanha. Witzel atribui as irregularidades ao então secretário de Saúde Edmar Santos e ao subsecretário Gabriell Neves. Segundo a defesa, o próprio Edmar afirmou em sua delação que Witzel não teria tido relação com a contratação.

"O que se vê, claramente, destas afirmações vagas e imprecisas, é o propósito do Ministério Público de dar ares de verdade às suas especulações açodadas e impressionar, com adjetivos abundantes, os julgadores", diz a defesa.

Em relação à OS Unir Saúde, que havia sido desqualificada pela secretaria de Saúde e depois foi requalificada pelo governador em meio à pandemia , Witzel volta a afirmar que sua decisão foi tomada para não paralisar 19 unidades de saúde, visando o interesse público. O governador afastado argumenta, ainda, que não existem provas da ligação de Mário Peixoto com a OS.

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"O entendimento de que o Sr. Mário Peixoto seria ligado à Unir adveio dos devaneios ficcionais do Ministério Público Federal que, para fechar a sua cinematográfica narrativa, vale-se de temerárias conclusões", diz. O documento destaca que nenhuma conversa telefônica de Peixoto tratou da OS Unir.

Primeira-dama

A defesa ainda rebate acusações de que o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel teria sido usado para receber propina de empresas beneficiadas pelo governo. O texto afirma que Helena e Witzel não tinham conhecimento sobre as relações das empresas que contrataram o escritório.

"É nítido que o Ministério Público Federal, no que é acompanhado pela Alerj, tenta contornar a mais absoluta falta de provas ou mesmo indícios de que houve participação do Chefe do Executivo, nas irregularidades apontadas, com base em teorias inadequadas, que nem de longe refletem a realidade dos fatos, a vontade da lei e até mesmo da jurisprudência", conclui.

Próximos passos

Com a entrega da defesa, o relator do processo no tribunal misto, deputado Waldeck Carneiro (PT), tem até 10 dias para dar um parecer sobre a continuidade ou não do processo. Após a entrega do relatório, os dez integrantes do grupo decidem, em votação, se o rito prossegue ou se é arquivado.

A decisão é tomada pela metade mais um dos votos. Caso a denúncia seja aceita, a previsão é que o processo seja concluído em janeiro, com a decisão final que pode cassar o mandato de Witzel , o que efetivaria o vice-governador Cláudio Castro no cargo.