Indicado ao STF turbinou currículo; relembre outros casos envolvendo políticos
Além de Kassio Marques, nome escolhido por Bolsonaro para o STF, o ex-ministro da educação Carlos Decottelli, o governador Wilson Witzel
Por Agência O Globo |
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal (STF), o desembargador Kassio Nunes listou em seu currículo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que fez pós-doutorado em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália, e pós-graduação na Universidade de La Coruña, na Espanha.
Procuradas pelo GLOBO, as instituições informaram que o curso italiano se tratou de uma especialização, equivalente a um ciclo de seminários, e o espanhol foi apenas um curso de extensão. Em um documento de 11 páginas, que inclui uma foto em frente a Universidade de Messina, na Itália, o desembargador Kassio Nunes tentou justificar as divergências existentes em seu currículo e afirmou que "além da formação em direito, não há requisitos mínimos acadêmicos para a posição de desembargador federal ou para a indicação e nomeação de ministro do STF".
Essa não é a primeira polêmica que surge envolvendo fraudes nos currículos de políticos e ministros. Veja outros casos a seguir:
Carlos Decottelli
O professor Carlos Alberto Decotelli ficou menos de uma semana no cargo de ministro da cducação. Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para a função em junho deste ano, com destaque para o seu currículo, Decotelli teve o diploma de doutorado contestado pelo reitor da Universidade Nacional de Rosário (Argentina), Franco Bartolacci. No Twitter, o reitor republicou o post do presidente e afirmou que Decotelli "não obteve a titulação de doutor mencionada no comunicado".
No currículo Lattes do ex-ministro ainda constava que Antônio Freitas, que é professor da FGV e presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), foi seu orientador no doutorado na Universidade Nacional de Rosário. Freitas, no entanto, nunca pertenceu aos quadros dessa universidade, tampouco há registros de sua participação em bancas de doutorado presenciais ou virtuais.
Antes de pedir demissão do ministério, Decotelli ainda foi acusado de plágio em sua dissertação de mestrado. O trabalho sobre o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) foi apontado por ter trechos inteiros copiados de um relatório feito em 2007 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão estatal que faz o papel de xerife do mercado de capitais, sem qualquer tipo de citação ou referência bibliográfica à CVM.
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Wilson Witzel
Em maio de 2019, o ex-juiz federal e governador do Rio, Wilson Witzel, declarava em seu Lattes uma passagem pela famosa universidade americana de Harvard. No documento, estava registrado um curso conhecido como "sanduíche", quando o aluno faz parte do doutorado numa instituição de ensino internacional parceira da universidade em que estuda. No caso do governador, uma parte da pós-graduação em "judicialização da política" que ele cumpria na Universidade Federal Fluminense, desde 2015, teria sido feito no campus de Cambridge, no estado de Massachusetts, nos EUA, mas isso nunca aconteceu.
Na época, A UFF informou ao GLOBO que o governador nunca sequer manifestou interesse em participar da seleção. Apenas dois alunos matriculados na mesma pós-graduação de Witzel foram para lá. Após a polêmica, Witzel assumiu ter incluído indevidamente na plataforma Lattes o curso em Harvard. Segundo sua assessoria de imprensa, o curso constava no currículo porque o governador tinha apenas a intenção de estudar na universidade americana durante um ano quando ainda era juiz federal, mas o objetivo nunca foi à frente.
Dilma Rousseff
A ex-presidente Dilma Rousseff também integra a lista de personalidades que fraudaram o currículo. Em 2009, ainda ministra-chefe da Casa Civil, Dilma teve os cursos de mestrado e doutorado questionados. O site oficial da Casa Civil mostrava que ela teria concluído os cursos de Ciências Econômicas na Unicamp, mas isso nunca aconteceu.
Após as reportagens sobre o caso, Dilma assumiu que havia erros no currículo e declarou não saber quem teria feito a inclusão na base de dados do Lattes. A ex-presidente tentou se justificar afirmando que teria cumprido todos os créditos dos cursos, mas que não tinha feito as teses. "Enquanto não me jubilarem eu sou doutoranda", declarou.