Parlamentares comparam falas de Moro a delações premiadas; veja repercussão

Deputados e senadores consideram a crise atual causada pela saída de Moro a mais forte desde as delações da JBS durante a gestão de Temer; parlamentares querem que Moro deponha à CPMI das fake news

Ex-ministro da Justiça, Sergio Moro
Foto: Carolina Antunes/PR
Ex-ministro da Justiça, Sergio Moro

O pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro , causou no congresso um alerta para uma crise política cuja qual o desfecho será difícil prever. Segundo Rodrigo Maia (DEM) e outros líderes da câmara, a situação é considerada grave, uma vez que, segundo Moro, o presidente atuou para ter acesso a relatórios de inteligência da Polícia Federal, o que certamente configuraria crime de responsabilidade.

Os parlamentares aguardam o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, às 17h desta sexta-feira (24), para avaliar o cenário como um todo e assim poder elaborar respostas à crise política.

"Já temos uma crise de saúde, econômica e agora se consolida efetivamente uma crise política. Um cenário extremamente complicado", disse Efraim Filho, líder do DEM.

Um dos receios dos parlamentares para prosseguir com a acusação de crime de responsabilidade e, assim, instaurar processo de impeachment, é o fato de o país já estar lidando com a crise motivada pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2). No entanto, alguns deputados já falam abertamente sobre essa possibilidade, como o líder do Podemos, Léo Moraes (PODE-RO). 

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"Caso sejam mais aprofundadas as denúncias, o Congresso pode atuar. É preciso aprofundamento. Mas é muito sério, porque fere o princípio basilar da administração pública, que é a impessoalidade. Temos que ter muita atenção, muita responsabilidade, espírito público, de modo que o Congresso tenha a percepção do momento, também da opinião pública e, principalmente, a imparcialidade para conduzir o processo desta maneira ", declarou o deputado.

Partidos e líderes, tanto na Câmara quanto no Senado, saíram em defesa de Moro após a demissão. Em nota, o PSDB diz que "Bolsonaro nunca quis um governo de técnicos qualificados" e que o agora ex-ministro "mostra que o presidente quer apenas um governo dos que baixam a cabeça para ele e os filhos, no lugar de agirem pelo país".

"A verdade é que a PF conduz investigações que incomodavam a família Bolsonaro – sobre ameaças à democracia", diz a nota do PSDB.

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Simone Tabet (MS) diz que “Moro tem história e histórico" para que as "declarações bombásticas" sejam "levadas a sério"

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Líder no Senado pelo partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, Major Olímpio (PSL-SP) afirmou que a PF vai "cumprir a lei, doa a quem doer". Em recado velado às interferências de Bolsonaro citadas pelo agora ex-ministro, o senador afirmou que Moro estava sem paciência, e que as investigações não terão intervenção.

"Sergio Moro sai, deu pra ele, não suportou mais. Sua paciência chegou ao limite. E no seu compromisso com o Brasil, jamais permitiria, enquanto ministro, interferência na Polícia Federal. Mas enganam-se aqueles que acham que vão interferir na PF e nas investigações que estão em curso ou que virão. Podem tirar o cavalo da chuva. Seja quem for vai tratar com isenção e no limite da lei. Parabéns ao Sergio Moro, mas eu tenho certeza absoluta que a PF, polícia de estado, de governante nenhum, vai cumprir a lei, doa a quem doer", disse.

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Álvaro Dias (PR), líder no Senado do Podemos, um dos partidos que mais apoiaram a Lava-Jato, destacou que as declarações de Moro sobre a atuação de Bolsonaro demonstram crime de responsabilidade, mas afirmou que um processo traumático neste momento de pandemia seria ruim para o país.

"O que o ministro coloca é muito grave, são denúncias gravíssimas. Se constituiriam, se nós quiséssemos colocar combustível no incêndio numa hora difícil para o país, em fundamentos para um processo de impeachment. Se configura claramente crime de responsabilidade. Mas o que fica claro mesmo é a opção do presidente, ele fez uma opção pelo lado que sempre esteve na militância política dele, que é o Centrão e o sistema de barganha permanente, loteamento de cargos, balcão de negócios, toma lá dá cá, e com isso vai perdendo o apoio das pessoas mais sérias do país."

Em suas redes, os senadores também se referiram ao pronunciamento de Moro como uma "delação premiada", destacando a afirmação de Moro de que Bolsonaro queria informações privilegiadas de investigações da Polícia Federal. Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Oposição no Senado, afirmou que é preciso averiguar declarações do agora ex-ministro. "Agora precisamos atentar para o seguinte: a coletiva de Moro foi um depoimento de delação premiada! Vamos averiguar todas as declarações do agora ex-ministro Sérgio Moro e tomar as medidas cabíveis."

O petista Humberto Costa (PT-PE) também usou o termo para se referir às declarações de Moro no fim desta manhã, afirmando que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade. "Estamos diante de um caso de delação premiada feita pelo ministro da Justiça contra o presidente da República. Ele é a principal testemunha dos crimes de responsabilidade cometidos pelo chefe do Executivo".

A líder do Cidadania na Casa, senadora Eliziane Gama (MA), também recorreu à rede para questionar as atitudes de Bolsonaro relatadas por Moro. Para ela, a saída do ex-juiz "expõe a falência do governo federal", que quebrou o discurso de combate à corrupção para impedir investigações incômodas e se aliar ao chamado Centrão, praticando a troca de cargos que sempre foi alvo de críticas do presidente.

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Eliziane também lembrou da independência da PF em investigações nos governos anteriores. Líder do PDT, o senador Weverton (PDT-MA) também disse ser "inadmissível" a tentativa de Bolsonaro para ter acesso privilegiado investigações e inquéritos. O líder do partido também citou a interferência política na PF como um fato "curioso". "É curioso também ver o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, reconhecer que no governo de Dilma Rousseff, ao contrário do que acontece no governo Bolsonaro, havia liberdade e autonomia da PF. Nada como o tempo para a corrigir a história.", comentou o líder nas redes.


CPMI das Fake News


Foto: Reprodução/Flickr
Marcelo Freixo pedirá a convocação do agora ex-ministro da Justiça Sergio Moro à CPMI das fake news

Após a renúncia de Moro, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) protocolou nesta sexta-feira (24) um requerimento de convocação para que o ministro da Justiça, Sergio Moro, fale à CPMI das Fakes News.

"Requeremos ao Plenário da Câmara dos Deputados a convocação do senhor Sergio Fernando Moro para prestar os devidos esclarecimento sobre a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, senhor Maurício Valeixo", diz o documento.

O presidente da CPMI, senador Angelo Coronel disse, então, que Moro fez praticamente uma delação premiada. "Ele poderia ter agido lá atrás e denunciado o presidente de querer dominar a PF para controlar algumas investigações. Vamos convocar o Moro para falar na CPMI para aprofundarmos mais nesses inquéritos".