Quem quer ditadura sonha com passado que nunca houve, diz Barroso
MInistro do STF, que foi eleito presidente do Tribunal Superior Eleitoral, criticou manifestantes, mas evitou falar da participação de Jair Bolsonaro
Por iG Último Segundo |
O ministro Luís Roberto Barroso , do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou neste domingo (19) os manifestantes que participaram dos protestos a favor de uma intervenção militar no Brasil e o fechamento dos poderes Legislativo e Judiciário. Houve uma carreata que pediu a instauração de um AI-5 , ato institucional que endureceu mais ainda a repressão durante a ditadura.
"Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso", escreveu Barroso no Twitter.
É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons (Martin Luther King).
— Luís Roberto Barroso (@LRobertoBarroso) April 19, 2020
Apesar das críticas, Barroso, que foi eleito na semana passada presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não comentou a participação de Jair Bolsonaro (sem partido) no protesto nem suas falas contra o Congresso.
Durante a manifestação, o presidente chegou a subir na caçamba de uma caminhonete, em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, e discursou para manifestantes . Sua fala fez uma aglomeração se concentrar à sua frente.
"Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil", declarou o presidente, que participou, pelo segundo dia consecutivo, de manifestação em Brasília, causando aglomerações. "Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", afirmou.
"Todos têm que ser patriotas, acreditar e fazer sua parte para colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais que direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês", completou Bolsonaro.
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Em determinado momento do discurso, ele tossiu várias vezes e levou a mão à boca. Desde que a crise da Covid-19 chegou ao Brasil, Bolsonaro tem dito que não pegou a doença. Eles fez dois exames para verifificar se estava contaminado e ambos deram negativo, mas ele não divulgou os resultados.
O ministro Gilmar Mendes, também do Supremo, também usou o Twitter para se manifestar. Ele republicou o comentário feito por Barroso e fez uma nova publicação dizendo que a volta ditadura "é rasgar o compromisso com a Constituição".
A crise do #coronavirus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática #DitaduraNuncaMais .
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) April 19, 2020
Já o ministro Marco Aurélio disse que o ato é uma atitude de "saudosistas inoportunos". "Tempos estranhos! Não há espaço para retrocesso. Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior. Saudosistas inoportunos. As instituições estão funcionando."
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, foi outro que usou as redes sociais para se posicionar. Em um tuíte, ele disse que Bolsonaro "atravessou o Rubicão" após discursar aos manifestantes que pediam intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional.
A expressão faz referência a um "caminho sem volta" e sua origem remonta a ato do general Júlio César que, em 49 a.C, atravessou o Rio Rubicão, na Itália, violando proibição do senado romano.
"A sorte da democracia brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado LIBERDADE!", escreveu Santa Cruz.