Presidente chegou a questionar se jornalistas
Isac Nóbrega/PR
Presidente chegou a questionar se jornalistas "não tem medo do coronavírus"

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em cadeia nacional na noite de terça-feira impulsionou um movimento pelo país de flexibilização das regras que dificultavam a circulação de pessoas. Governadores de três estados (Santa Catarina, Rondônia e Mato Grosso) baixaram portarias para reabertura ao menos parcial do comércio. Cidades, como o Rio e Campo Grande, foram na mesma linha.

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Nas redes sociais , também houve impacto. Monitoramento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (Dapp-FGV) feito para O GLOBO, com dados coletados entre 21 de março e às 15h desta sexta-feira, identificou forte aumento de discussão sobre os imapctos econômicos da quarentena após a fala do presidente na TV

Antes, o debate sobre esse assunto tinha baixa adesão e se organizava principalmente em grupos de oposição para criticar empresários pró-Bolsonaro que minimizavam as possíveis mortes da pandemia e ameaçavam demitir funcionários. Depois do prounciamento, a hashtag #obrasilnãopodeparar se tornou elemento central da articulação bolsonarista para criticar medidas de quarentena já foi citada em 139,2 mil tuítes. Outra hashtag fortemente usada desde quarta é #doriavaiquebrarsp, de ataque ao governador de São Paulo, João Doria, com 89 menções.

Antes do pronunciamento, foram contabilizados 114 mil tuítes sobre os empresários que viralizaram na internet ao defender o arrefecimento de medidas de distanciamento social. De acordo com o levantamento da Dapp-FGV, esse debate perdeu praticamente todo o espaço desde então. O número total de tuítes de defesa do posicionamento do governo federal chegou a 549 mil.

Além disso, apoiadores do presidente tem promovido carreatas pelo país em favor da volta da população ao trabalho. Manifestações desse tipo já ocorreram na noite de quinta-feira na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e em São Paulo nesta sexta-feira. Pelas redes sociais, estão sendo convocados atos semelhantes para o final de semana em 12 estados.

"O enfrentamento dessa pandemia tem dois tempos: antes do pronunciamento do presidente da República e depois do pronunciamento - afirmou prefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD)".

Trad alega que particularmente era contra flexibilizar as regras, mas justifica que não tinha alternativa legal depois do decreto de Bolsonaro que aumentou a lista de serviços essenciais. Na capital do Mato Grosso do Sul, foram permitidas as aberturas de restaurantes, lotéricas e igrejas. A prefeitura estabeleceu condições como a exigência de que só 30% da capacidade dos restaurantes possa ser ocupada.

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Indagado se prevê uma explosão de casos na cidade, o prefeito respondeu: " Vou orar a Deus que não aumente. Mas o percentual de pessoas andando na rua vai aumentar e aumentando o percentual aumenta o percentual de infecções".

O próprio irmão do prefeito, o senador Nelson Trad (MS), foi afetado pelo coronavírus. Ele estava na comitiva do presidente Jair Bolsonaro que foi aos Estados unidos. O senador de 58 anos teve complicações e precisou ser internado duas vezes.

"Se fosse um cidadão comum, talvez não estivesse mais aqui entre nós", disse o prefeito, se referindo ao fato de seu irmão ter sido atendido em uma unidade particular de saúde.

Em Balneário Camboriú, que foi palco de uma carreata na noite de domingo, a abertura de comércio reivindicada irá ocorrer na próxima semana por causa de uma iniciativa do governador do estado, Comandante Moisés (PSL). A partir do 1, poderão funcionar no estado lojas, shoppings, academias e hotéis.

Foi um decreto do governador e nós vamos ter que proteger a cidade dentro desse quadro. Vamos avaliar o resultado da quarentena e avaliar essa nova situação com a volta da economia, que tem a sua importância - afirmou o prefeito Fabrício Oliveira (sem partido).

Na cidade há uma preocupação extra porque um terço dos 150 mil habitantes são idosos. No momento, há nove pessoas infectadas.

Aliado de Bolsonaro, o governador de Rondônia, Marcos Rocha ( PSL ), assinou na quarta-feira um decreto liberando o funcionamento parcial do comércio, das indústrias, obras e serviços de engenharia, oficinas mecânicas, autopeças, hotéis e hospedarias.

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Mesmo onde ainda não houve liberação, há pressão sobre os governantes . As federações da Agricultura (Farsul), das Indústrias (Fiergs) e do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio) do Rio Grande do Sul divulgaram um manifesto com pedido de retomada gradativa das atividades econômicas. Comerciantes da cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, também pressionam o prefeito local, Edinho Araújo, nesse sentido.

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