Acusações contra a senadora ocorrem no âmbito das eleições de 2018
Waldemir Barreto/Agência Senado
Acusações contra a senadora ocorrem no âmbito das eleições de 2018

Cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a senadora Selma Arruda (Podemos-MT) avalia adotar uma medida que pode atrasar ainda mais a execução da sua pena, imposta pela Justiça eleitoral em dezembro do ano passado. Ela diz que seu advogado pode questionar os procedimentos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para resolver sua situação.

"Estamos conversando (com meu advogado) para ver o melhor caminho. Houve várias irregularidades ali, por exemplo, o regimento fala em sortear um relator e ele (Alcolumbre) não sorteou, só apontou o dedinho ali."

Alcolumbre anunciou na semana passada a escolha do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), para relatar seu processo na Mesa Diretora. O presidente do Senado não fez sorteio para decidir o nome. Esse rito, no entanto, não está no regimento do Senado. No caso de Selma, Alcolumbre está seguindo um processo usado pela Casa em 2005, quando o então senador João Capiberibe (PSB-AP) foi cassado. À época, foi decidido pelo sorteio de um relator.

Leia também: Líder do governo no Congresso será relator de cassação da senadora Selma Arruda

Selma acusa Alcolumbre de adotar o procedimento que melhor lhe convém. "Agora, acho que isso (um procedimento de cassação) já deveria ter sido regulamentado há muito tempo. E o que o Senado usa, como sempre, ao bel-prazer de quem interessa a regra ditada na hora do jogo, durante o jogo. Isso é muito ruim para a Casa. Eu fui juíza muito tempo e a gente sabe... Difícil você viver assim, com essas inseguranças políticas. Para o Davi Alcolumbre, é bom que venha esse terceiro colocado para cá porque ele é do PSD, e o PSD está cada vez se fortalecendo mais aqui no Senado. Então, ele tem também, além do apoio do MDB de Renan e do PSD, ele tem uma chance muito maior de conseguir a reeleição no Senado."

O terceiro colocado na disputa no Mato Grosso em 2018 é Carlos Fávaro, do PSD. Ele, porém, conseguiu liminar para assumir a cadeira de Selma apenas enquanto não sai o resultado das eleições já convocadas para substituí-la, em abril. O PSD tem nove senadores e deve ganhar Antonio Anastasia (MG), que deixa o PSDB, Vanderlan Cardoso (GO), que se despede do PP. É a terceira maior bancada, atrás do MDB (13) e do Podemos (11). Para tentar a reeleição, Alcolumbre precisa aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC). Hoje, a lei impede que o presidente do Senado seja reeleito na mesma legislatura.

Leia também: Ministros do STF dizem que Senado deve cumprir decisão que cassou Selma Arruda

Você viu?

O procedimento anunciado por Alcolumbre há duas semanas é considerado por parte dos colegas como protelatório, que defendem que a Casa deveria apenas declarar a perda de mandato. Isso porque a decisão do TSE foi pela cassação imediata da senadora, independentemente da eventual apresentação de recurso por Selma à última instância possível - o Supremo Tribunal Federal (STF).

Rito da defesa

No rito adotado por Alcolumbre, depois da escolha de Gomes, Selma tem 10 dias para se defender. Caso não o faça, é escolhido outro senador para fazê-lo, também com 10 dias. O relator tem, então, cinco dias para apresentar seu parecer, que, depois, é votado pela Mesa. Alcolumbre já indicou que não haverá a tentativa de descumprir a decisão do TSE. Na prática, Selma está apenas ganhando mais tempo no mandato.

Além da escolha do relator sem sorteio, Selma estuda questionar o próprio rito. "Várias coisas (foram irregulares), inclusive a invenção de procedimento. Porque aqui não tem regulamentação a respeito, para cada caso eles inventam um procedimento diferente. Mas isso tudo provavelmente vai ser revisto, estou deixando para o meu advogado, não estou mais cuidando disso."

Na Justiça eleitoral, o processo de Selma está na fase da apresentação dos últimos recursos possíveis no TSE, que não mudam a decisão. Só depois disso, ela pretende entrar com recurso no Supremo.

"Enquanto tem prazo de embargo [no TSE], não conta prazo de recurso (no STF). A gente ainda está meio amarrado aguardando julgamento dos embargos para poder entrar com o recurso", diz a senadora.

Questionada sobre a necessidade de o caso dela ser analisado pelo Senado, mesmo tendo sido cassada pelo TSE, ela diz que foi vítima de injustiça.

"Eu não acho [que seria melhor procedimento cassá-la imediatamente], porque não faz sentido a Constituição dizer que vai dar ampla defesa e, depois, dizer que simplesmente vai declarar [a cassação]. Ou ficaria um teatrinho bobo. Então, não vejo sentido nisso por esse motivo."

Pela Constituição, quando a Justiça Eleitoral decreta a perda de mandato de um parlamentar, a cassação "será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa".

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!