Jornal desmente depoimento de testemunha em CPI
Hans River, ex-funcionário de agência de envios de conteúdo em massa pelo WhatsApp atacou repórter da ‘Folha de S.Paulo’, que comprovou mentiras
Por Agência O Globo | | Agência O Globo - |
O jornal “ Folha de S. Paulo ” publicou reportagem em que desmentiu depoimento prestado na segunda-feira (10) por uma testemunha ouvida na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito ( CPMI ) que tem como finalidade apurar a divulgação de notícias falsas nas eleições de 2018 — a chamada “CPMI das Fake News”.
Diante de parlamentares, Hans River do Nascimento — um ex-funcionário da Yacows, agência que faz envios múltiplos de conteúdo via WhatsApp — fez afirmações insultuosas sobre a conduta da jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha”. Testemunha , River negou ainda ter repassado informações à repórter durante a eleição de 2018, o que foi desmentido pelo jornal, que exibiu documentos e mensagens das conversas entre os dois.
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O depoimento de Hans River era sobre a reportagem escrita por Patrícia noticiando que empresas contrataram o envio em massa de mensagens via WhatsApp com conteúdo crítico à candidatura do PT. A Yacows teria explorado comercialmente a prática.
Abordagem inicial
Na CPMI, Hans River afirmou que foi procurado inicialmente para falar sobre um livro que estava lançando à época, e não sobre o trabalho na Yacows. Ele também negou ter dividido com a repórter documentos sobre a atuação da empresa. A “Folha”, no entanto, divulgou registros de conversas que mostram, entre outros momentos, a abordagem inicial de Patrícia ao entrevistado, na qual ela deixa claro que está elaborando uma reportagem sobre os disparos em massa. O material também esclarece que o ex-funcionário enviou arquivos internos da empresa à jornalista, embora tenha negado que o fez durante seu depoimento.
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Hans River também afirmou que Patrícia “se insinuou” e que pretendia “sair” com ele. A fala dele foi compartilhada pelo deputado Eduardo Bolsonaro em suas redes ainda durante a sessão.
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"Ela (Patrícia) queria sair comigo e eu não dei interesse para ela. Ela parou na porta da minha casa e se insinuou para entrar, com o propósito de pegar a matéria", relatou Hans River. Em resposta a esse trecho do depoimento, Eduardo disse não duvidar que a jornalista “possa ter se insinuado sexualmente” com o intuito de “tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”. Após o fim da sessão, o deputado compartilhou vídeo do depoimento no Twitter.
O histórico de mensagens divulgado pela “Folha” mostra que, ao contrário do que disse na CPMI, foi Hans River quem tentou desviar o foco do diálogo. Ele a convidou para assistir a um show, mas Patricia não respondeu ao convite.
O ex-funcionário foi procurado por Patrícia depois de abrir um processo trabalhista contra a Yacows. Após a empresa ter sido procurada para comentar a denúncia sobre o uso que supostamente fazia do WhatsApp, Hans River voltou atrás e desistiu de contribuir com o trabalho da repórter. Em seguida, ele formalizou um acordo trabalhista com a Yacows .
Após o ocorrido, a “Folha” divulgou nota em que “repudia as mentiras e os insultos”. O texto também diz que “causa estupefação, ainda, o Congresso Nacional servir de palco ao baixo nível e as insinuações ultrajantes do deputado Eduardo Bolsonaro”. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou o ocorrido.