Trump, Lula e Moro: o que os Bolsonaros tuitaram em 2019
Entre os destaques está o prestígio dedicado ao ministro Moro, figura mais popular do governo, seguido pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub
Por Agência Pública | | Texto: Ethel Rudnitzki |
No segundo semestre de 2019, foram poucos os dias em que algum dos quatro homens da família Bolsonaro deixou de tuitar ou dar um retuíte. De ataques a opositores e ex-aliados, afagos a influenciadores de ultradireita a propagandas de projetos de governo, foram 3.625 tuítes que demonstram as prioridades e paixões do clã.
A Agência Pública monitorou todos os tuítes publicados pelo presidente e seus três filhos mais velhos de junho a dezembro de 2019 e analisou os temas mais comentados, as hashtags mais usadas e as contas com as quais eles mais interagiram.
Entre os destaques estão o prestígio dedicado ao ministro Sergio Moro, a figura mais popular do governo, seguido pelo ministro da Educação, o olavista Abraham Weintraub; as menções a Donald Trump, que espelham o completo alinhamento à política americana, apoiada por Eduardo Bolsonaro e a interação com contas suspensas.
O Bolsonaro mais ativo foi o filho mais novo, Eduardo, com 1.649 publicações, cerca de nove por dia. Em seguida, o do meio, Carlos Bolsonaro, com 1.113 postagens – em média, seis por dia. Jair Bolsonaro fez 670 publicações, quase quatro por dia. Já o senador Flávio Bolsonaro tuitou apenas 193 vezes.
Previsivelmente, as publicações da família no Twitter giraram em torno do patriarca. “Brasil”, “Bolsonaro” e “presidente” foram os substantivos mais repetidos pelos quatro perfis juntos – 487, 286 e 233 vezes, respectivamente.
We <3 Trump
Entre as contas que não pertencem a membros do governo, as mais mencionadas incluem a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , o que demonstra o completo alinhamento ao americano.
Trump foi retuitado ou mencionado pelos quatro Bolsonaros 39 vezes. Quem demonstrou maior apreço foi Eduardo, com 26 menções. O filho mais novo, que ajudou na escolha do chanceler Ernesto Araújo, chegou a ser proposto por Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos – a nomeação foi abandonada depois de resistência no Congresso.
Já os perfis dos sites Renova Mídia, Conexão Política e República de Curitiba, alinhados ao governo, foram republicados ou citados 66 vezes pela família Bolsonaro. O presidente retuitou o primeiro duas vezes e o último em outras duas ocasiões.
Bernardo Kuster, Henrique Oliveira e Allan dos Santos foram os influenciadores da direita mais prestigiados em publicações da família Bolsonaro, com 22, 19 e 18 menções ou retuítes, respectivamente. No entanto, apenas os filhos os citaram, e não o presidente.
Uma das 15 contas com as quais Jair Bolsonaro interagiu no último semestre foi suspensa do Twitter por violar as regras de uso da plataforma. O perfil @tavinhopg_ foi mencionado quatro vezes pelo presidente. Em uma das ocasiões, Bolsonaro desejou um “forte abraço” à conta.
Carlos Bolsonaro também interagiu com contas que foram suspensas. O perfil @JapadoBolso foi mencionado 11 vezes pelo filho do presidente entre junho e dezembro de 2019. Carlos enviou comentários personalizados a ele. “Japa, saudades daquilo que a gente nunca viveu!”, escreveu em 10 de outubro.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o perfil @Sah_Avelar, que tinha atividade automatizada – centenas de tuítes por dia, todos com hashtags ligadas ao governo – como mostrou reportagem da Pública .
Ministros, temas de Estado – e apologia às armas
Na política via Twitter, os ministérios que mais mereceram a atenção dos Bolsonaros foram Justiça e Segurança Pública, Educação (MEC), Infraestrutura e Economia.
O ministro Sergio Moro, do Ministério da Justiça e Segurança Pública – a figura mais popular do governo, segundo pesquisa Datafolha publicada em dezembro –, foi o campeão: sua conta recebeu 60 retuítes ou menções dos Bolsonaros – dez do presidente, cinco de Flávio, 16 de Carlos e 29 de Eduardo.
Jair Bolsonaro retuitou diversas publicações do seu ministro sobre projetos e conquistas do ministério. No dia 10 de novembro, publicou uma foto com Moro em cerimônia de formatura de policiais federais. A postagem agradou aos fãs: foram 4,8 mil retuítes e 26,3 mil curtidas.
Você viu?
Abraham Weintraub, do MEC, foi o segundo ministro mais mencionado ou retuitado, num total de 54 vezes. O grande responsável foi Eduardo Bolsonaro, que o evocou 43 vezes. Os dois têm em comum a admiração expressa ao autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, também mencionado em 14 tuítes do deputado. Em uma das ocasiões, o filho “03” de Bolsonaro retuitou publicação do guru na qual ele elogia o ministro.
O nome do ministro Paulo Guedes, que não possui conta oficial no Twitter, foi citado 33 vezes – sete vezes pelo presidente, uma vez por Flávio, 13 vezes por Carlos e 12 vezes por Eduardo. O presidente apoiou também a reforma da Previdência proposta por Guedes postando duas vezes a hashtag #NovaPrevidência.
Entre os temas mais tuitados ligados a ministérios, em primeiro lugar ficou justiça e segurança pública, assunto de mais de 730 publicações, seguido por economia, com 469, educação, com 282, e infraestrutura, com 166 tuítes.
A defesa do armamento foi o grande tema em relação à segurança pública – e Eduardo foi o mais prolixo defensor. “Armas”, “desarmamento” e outras palavras relacionadas foram citadas 92 vezes pelo deputado, 15 vezes pelo presidente, 16 vezes pelo senador Flávio Bolsonaro e 21 vezes por Carlos Bolsonaro .
Brasil acima de tudo, antipetismo acima de todos
Mais importante para a família Bolsonaro do que algumas das áreas do governo está o combate à esquerda. No Twitter, o presidente e seus filhos Carlos e Eduardo fizeram mais de 240 publicações críticas a temas ligados à esquerda (“PT”, “ Lula ”, “Psol”, “esquerda”, “esquerdista”, “ comunista ”, “comunismo”, “socialismo” e “socialista”).
Eduardo Bolsonaro foi o mais prolixo: usou esses termos 127 vezes. Dessas, citou o ex-presidente Lula em 30 ocasiões – o mesmo número de vezes que mencionou o primeiro nome do pai, “ Jair ”.
Hashtags e Emojis
O filho 03 do presidente, Eduardo Bolsonaro, foi o que mais usou hashtags – 76 diferentes – no período. A mais usada foi #grandedia, para comemorar conquistas do governo, publicada quatro vezes.
A frase gerou polêmica no começo do ano, quando Jair Bolsonaro usou-a no mesmo dia em que o ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol) anunciou a renúncia ao mandato por temer pela sua segurança.
As intrigas políticas e posicionamentos na plataforma também foram marcados por emoticons ou emojis – caracteres que são pequenos desenhos.
Os preferidos foram a bandeira do Brasil, usado principalmente por Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro (113 e 14 vezes, respectivamente), o rosto gargalhando, usado por Carlos Bolsonaro 126 vezes, e as palmas, usadas 92 vezes por Eduardo Bolsonaro. O presidente também utilizou o “joinha”, ou sinal de positivo, 103 vezes.