Retórica de Bolsonaro em relação à China mudou.
Luiz Gomes/Agência O Globo
Retórica de Bolsonaro em relação à China mudou.

O presidente Jair Bolsonaro mudou sua retórica de campanha em relação à China porque o cumprimento de suas promessas de governo depende do saldo positivo de sua balança comercial com o país. É esta a conclusão do diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Xangai, Jiang Shixue, que assina artigo sobre a visita do presidente no “China Daily”, um dos maiores jornais de língua inglesa do país.

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Sob o título “Como melhor promover os laços Brasil-China ”, o artigo é ilustrado por um dueto entre um papagaio com chocalhos pousada sobre a flauta de um urso panda. No texto, o professor relembra a frase de Bolsonaro de que a China estaria comprando o Brasil e diz o anúncio de que visitaria o país, feito depois de sua visita aos Estados Unidos, marcou a guinada na posição brasileira.

O autor diz que as relações dos dois países foram construídas em cima de vantagens comparativas – “A China tem força de trabalho abundante, forte habilidade em manufaturas e grande mercado, e o Brasil é rico em recursos naturais e é o maior mercado da América Latina”. Afirma, porém que a relação deve ir além dessa complementariedade.

É a deixa para duas citações da "Iniciativa do Cinturão e da Rota”, ou “Belt and Road Iniciative”, como é conhecido o projeto de investimentos em infraestrutura chinês que alguns consideram um novo Plano Marshall como a rota para ampliar a relação entre os dois países para além das trocas comerciais. Em entrevista hoje em Pequim, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que vai discursar num evento para atrair investidores para o Brasil mostrou pouco interesse no programa.

Afinado com a linha da diplomacia chinesa, Jian  Shinxue cita a importância da aproximação entre os dois países para conter o que chama de “disseminada influência” americana sobre a América Latina: “Os Estados Unidos têm sido vigilantes contra os investimentos chineses na América Latina e até mesmo tentaram promover discórdia entre China e alguns países do continente”.

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O artigo reconhece que, como Bolsonaro adotou uma posição “pró-EUA” durante a campanha, não é fácil para o presidente operar a mudança. Vaticina ainda que as relações que só irão evoluir se o presidente brasileiro barrar a interferência de “terceiros” e se unir à China contra o protecionismo e a favor dos fóruns multilaterais.

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