Fundador do PSL, vida de cartola e força em Pernambuco: quem é Luciano Bivar
Presidente Nacional do PSL foi durante muito tempo o único nome forte da legenda e viu em Bolsonaro a grande chance de tornar a sigla que fundou um dos partidos mais representativos no Congresso Nacional
"O PSL não era nada antes de Bolsonaro". A frase, repetida diversas vezes por apoiadores do presidente, é verdadeira se levar em conta a representatividade que o partido tinha até as eleições de 2018. Na última legislatura, a sigla tinha apenas um representante no Congresso, justamente o fundador dela, Luciano Bivar. O deputado federal de 74 anos é o novo alvo dos ataques dos bolsonaristas e, pela primeira vez, passou a ficar conhecido em todo o País. No seu estado natal, porém, o empresário já é famoso há muito tempo.
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Empresário do ramo de seguros, Luciano Bivar construiu uma verdadeira fortuna no Recife, capital de Pernambuco. Presidente do Conselho de Administração da Companhia Excelsior de Seguros, é formado em Direito, mas advogou apenas em bancos e empresas seguradoras, ramo que, posteriormente, o tornaria rico. Nas últimas eleições, ele declarou ter quase R$ 18 milhões em bens.
O primeiro trabalho, porém, foi na publicidade. Com a ajuda da família, conseguiu uma vaga na agência Warlupo, uma das mais fortes no segmento em Pernambuco . Formado, se tornou advogado na Delphos, seguradora com sede no Rio de Janeiro e que ampliava os seus negócios no Recife. Ali virou gerente, vice-presidente e presidente, passando a receber, pelo cargo, uma porcentagem de cada seguro habitacional fechado com a empresa em parceria com o Banco Nacional de Habitação. Lucrando, recebeu o convite para virar sócio da Delphos e passou a ter 2% das ações da empresa.
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Bivar só deixou de atuar na Delphos quando já tinha 45 anos. O empresário entendeu que era o momento de fundar a sua própria seguradora, a Gerencial Brasitec, que atuaria em 18 cidades do Brasil como gerencia dos seguros de riscos dos seguros habitacionais da Caixa Econômica Federal.
Com os lucros da Gerencial Brasitec, o empresário conseguiu juntar os 10 milhões de dólares que precisava para comprar e e tirar do processo de falência a Excelsior Seguros. A primeira ação de Bivar foi levar a seguradora do Rio de Janeiro para o Recife. Com o aporte, a empresa se tornaria a segunda maior seguradora de riscos do Brasil.
Do tênis para o futebol: Sport Recife como meio político
Ainda que como empresário já tivesse muito contato com o meio político, foi como cartola de futebol que Luciano Bivar ganhou notoriedade em Pernambuco. Ex-tenista profissional, o advogado passou toda a sua adolescência no Sport
Club do Recife, um dos maiores do Estado. Seu pai, Milton de Lyra Bivar, assumiu a presidência do clube em 1952. Começaria o domínio da família Bivar no time da Ilha do Retiro que dura até hoje.
Com apenas 18 anos, Luciano Bivar foi nomeado pelo pai como diretor de Tênis do Sport. A ascenção, aliada com a força política da família, fez com que o então estudante de Direito se tornasse famoso em cada espaço do clube, mas ele sabia que precisava chegar ao futebol para, enfim, se tornar famoso para o torcedor do Sport.
Isso aconteceu em 1984, quando foi convidado pelo então presidente do Leão, Arsênio Meira, para ser diretor de futebol do Sport. Dois anos depois, se tornou vice-presidente do clube e, em 1987, o sucesso foi completado com o título do Campeonato Brasileiro, até hoje, a maior conquista do futebol pernambucano.
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A conquista era o que Luciano Bivar para alcançar a tão sonhada presidência do Sport Club do Recife. Com o apoio de Homero Lacerda, então presidente, Bivar foi eleito mandatário do Leão para o biênio de 1989 e 1990, feito que repetiria mais três vezes: 1997-2001; 2005-2006; e 2013.
Durante a o seu último mandato, Luciano Bivar criou grande polêmica ao dizer em uma entrevista que subornou membros da Confederação Brasileira de Futebol para que o volante Leomar fosse convocado pelo técnico Emerson Leão para a seleção brasileira em 2001. Apesar do escândalo, a família continuou com força no clube e, atualmente, o irmão de Luciano, Milton Bivar, é o mandatário.
A hora de virar político
Já milionário, bem-sucedido e com carreira de sucesso como dirigente de futebol , Luciano Bivar se filiou em 1992 ao Partido Liberal (PL) a convite do então deputado Álvaro Vale. De imediato, setornou presidente estadual da sigla em Pernambuco e concorreu a uma cadeira no Senado dois anos depois, ficando longe de ser eleito. O ainda novato político terminaria aquela eleição na sétima colocação, com Carlos Wilson (PSDB) e Roberto Freire (PPS) alcançando as cadeiras.
Percebendo que só conseguiria ter força política em um Estado dominado pela família Arraes, Luciano Bivar resolveu fundar um partido que fizesse oposição, pregasse o liberalismo, mas sem se esquecer de causas sociais, tema de grande relevância para os pernambucanos. Nascia o PSL . A estratégia da sigla era atuar com força no Nordeste e no Sudeste. Bivar ficaria responsável pela promoção do partido em Pernambuco e o ex-senador Romeu Tuma levaria a novidade para São Paulo.
Em sua primeira eleição no partido que fundou, Bivar já obteve sucesso. Foi eleito deputado federal em 1998 sendo o oitavo colocado. Foi neste pleito, porém, que o empresário segurador perceberia pela primeira vez que não bastava sua força para tornar o partido força. Seria necessário algo a mais, aparecer em todos os estados do Brasil. A estratégia política do PSL mudou da água para o vinho.
Luciano Bivar não se contentava em aparecer apenas nos noticiários de Pernambuco. Era cada vez mais complicado conseguir políticos famosos que aceitassem se filiar ao PSL. A alternativa encontrada pelo empresário foi aparecer para todo o Brasil da única forma possível naquele momento: se lançar candidato a Presidência da República.
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Quero ser presidente
Se em 1994, o empresário não conseguiu se eleger senador, a alternativa seria se aliar um dos vencedores daquele pleito. Por isso, em 2002 Luciano Bivar concorreu como suplente de Carlos Wilson (PTB) ao Senado. A estratégia, porém, não deu certo, com o candidato terminando as eleições na terceira colocação.
Passados quatro anos, a estratégia de tornar o PSL famoso em todo o Brasil é posta em prática. Luciano Bivar lança sua candidatura a presidente com o discurso de criar um Imposto Único e lutar contra a corrupção. Aquelas eleições, aliás, ficariam marcadas por discursos muito parecidos dos opositores do então presidente Lula, que tinha enfrentado o escândalo do Mensalão um ano antes. O pernambucano ficou na sétima posição, com uma das votações mais inexpressivas da história: 0,06% dos votos.
Para piorar, o PSL não elegeu nenhum deputado federal ou senador e ficou ainda menos conhecido no Brasil. Em 2010 - Bivar não se candidatou - o partido elegeria apenas Massami Miki, pelo Amazonas.
O "efeito Bolsonaro"
Com a queda de popularidade no Sport após a revelação de que teria sonegado dirigentes da CBF, Luciano Bivar decide voltar para a política em 2014 e se elege deputado federal. Mais uam vez, o PSL teria apenas ele como representante no Congresso Nacional, mas no último ano da legislatura, a estratégia de tornar o PSL forte em todo o País ganha um fator que finalmente daria certo: Jair Bolsonaro .
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O capitão reformado que fez carreira política defendendo o conservadorismo, as causas militares o antagonismo aos direitos humanos sonhava em ser Presidente da República. O PSC, seu partido da época, não via a candidatura com bons olhos, mas ressignado a concorrer, Bolsonaro foi em busca de uma sigla que o abrigasse.
O então deputado federal flertou com o PEN, que mudou o nome para Patriota justamente para abrigar Bolsonaro. As discordâncias sobre o comando do partido, entretanto, fez com que o capitão mudasse da ideia.
Luciano Bivar já conhecia Bolsonaro da Câmara, mas os dois pouco se falavam. Entrou no jogo o advogado Gustavo Bebianno, principal responsável por atrair o hoje presidente ao PSL. Em uma conversa com o fundador da sigla, o candidato a presidente foi convencido a se filiar depois que um projeto em que ele seria o centro de tudo foi apresentado. A estratégia do PSL era renascer como o partido de Bolsonaro.
O próprio Bivar usou o nome de Bolsonaro em sua campanha de reeleição à Câmara. Mesmo com todo aporte político que tem em Pernambuco, o empresário se apresentou como o "federal do Bolsonaro", slogan usado por outros candidatos do PSL.
Apoiado com a eleição do capitão reformado a presidente, o PSL conseguiu eleger 52 deputados federais e quatro senadores. Com o partido mais representativo na Câmara, Bivar conseguiu ser eleito o 2º Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, assumindo a Mesa Diretora em casos de ausência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Marcos Pereira (REP-SP).
Candidaturas laranja no PSL
A relação entre Bolsonaro e Luciano Bivar começou a ficar estremecida um mês após o presidente chegar ao Planalto. Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo relatou um esquema de candidaturas laranja utilizado pelo PSL durante as eleições de 2018. No começo, as denúncias envolviam apenas o presidente do PSL em Minas Gerais, Marcelo Álvaro Antônio, mas novas investigações do Tribunal Superior Eleitoral apontou fraudes também em Pernambuco e o nome do Presidente Nacional do partido veio à tona.
Em fevereiro, a Polícia Civil de Pernambuco passou a investigar o caso da candidata Lourdes Paixão, que declarou ter recebido R$ 400 mil do fundo partidário, mas obteve 274 votos. O TSE quer saber se esse dinheiro foi aplicado na campanha de Luciano Bivar, eleito em sétimo lugar, com 117.943 votos. O parlamentar nega.
Na semana passada, enquanto atendia a simpatizantes, um filiado ao PSL de Pernambuco tentou gravar um vídeo ao lado de Bolsonaro citando Bivar. No mesmo instante, o presidente pediu para que aquilo não fosse divulgado e aconselhou o seguidor a abandonar o PSL porque "Luciano Bivar está queimado".
A declaração caiu como uma bomba no PSL. Líderes na Câmara e no Senado atacaram Bolsonaro. Luciano Bivar declarou que o presidente já não tem qualquer relação com o partido. Ainda assim, no dia seguinte, Bolsonaro disse que não vai sair da sigla por enquanto.