Em um raro momento de questionamentos incisivos da sabatina para definição do comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador Fabiano Contarato (REDE-ES), que é homossexual assumido, perguntou ao subprocurador Augusto Aras sobre a assinatura de um compromisso com a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) , que registra o conceito de família como a união de um homem com uma mulher e aceita tratamento de cura gay , dentre outros pontos.
Leia também: Durante sabatina no Senado, Augusto Aras elogia Lei do Abuso de Autoridade
Contarato afirmou a Aras que é casado e tem filhos e perguntou se ele considera que sua família é inferior, como uma "subfamília", por ser gay . A sabatina ocorre nesta quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado). Os integrantes votarão a indicação de Aras pelo presidente Jair Bolsonaro para exercer o comando da PGR pelos próximos dois anos.
“O senhor não reconhece a minha família como família?”, perguntou Contarato. “Todos somos iguais perante a lei, senhor procurador. Eu sonho o dia em que eu chegarei a essa comissão ou à tribuna do Senado e vou ter orgulho de dizer que vivo num estado democrático de direito. Que ninguém vai ser julgado pela cor da pele ou pela sua orientação sexual, por ser idoso ou jovem, por ser mulher, por ser índio. Porque todos somos brasileiros. Eu quero muito que esse dia chegue logo. (Mas) Eu quero sim que o senhor me responda se eu tenho família. Eu quero sim que o senhor me responda se eu estou doente” afirmou o senador, arrancando aplausos da plateia da CCJ.
'Confesso que eu não li'
No momento de sua resposta, Aras afirmou que assinou o compromisso com a Anajure sem ler em detalhes os pontos descritos. Disse ainda reconhecer a união homoafetiva como família e afirmou não acreditar na cura gay . “Confesso a vossa excelência que eu não li. (...) Eu sou um cidadão desse tempo e eu não posso deixar de reconhecer todos os fenômenos sociais e humanos. Respeito muito vossa excelência, tenho amigos e amigas que têm casamento homoafetivo, o casamento como um contrato na contemporaneidade entendido, hoje assim entendido na via jurídica” disse Aras.
Aras complementou sua resposta cumprimentando a família de Contarato. “No mais os meus respeitos a vossa excelência, a vossa família, aos vossos filhos, que são tão iguais quanto os meus. E nem acredito em cura gay, me permita complementar”, respondeu o subprocurador.
Leia também: Além de Lula: Julgamento do STF pode beneficiar mais de 150 réus da Lava Jato
Aras ainda afirmou que os cidadãos devem ter direito de livremente escolher sua opção sexual. “Eu não entendo essa dinâmica intitulada cura gay como algo científico. Eu entendo que a medicina já busca em várias áreas compreender a identidade de gênero não só a partir de homem e mulher, mas compreender o direito sagrado de cada cidadão a escolher na idade adequada sem influência de quem quer que seja a sua opção de gênero. Cura gay é uma dessas artificialidades pela qual eu não tenho nenhuma consideração de ordem científica” disse Aras.