Operação contra líder do governo eleva desconfiança entre Bolsonaro e PF

Ação contra Fernando Bezerra Coelho foi recebida por aliados de Bolsonaro como uma reação da PF às recentes investidas do presidente sobre o órgão

PF cumpre mandados em gabinetes do líder do governo Bolsonaro, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 19.9.19
PF cumpre mandados em gabinetes do líder do governo Bolsonaro, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE)

operação deflagrada nesta quinta-feira (19) pela Polícia Federal (PF), incluindo uma ação de busca e apreensão no gabinete do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), elevou a desconfiança entre o Palácio do Planalto e a PF, como informou a colunista Bela Megale . Nas últimas semanas, causaram incômodo na Polícia Federal as
declarações e atos de interferência do presidente Jair Bolsonaro (PSL), como na troca do superintendente da corporação no Rio.

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A ação contra o líder do governo — autorizada pelo ministro do STF Luis Roberto Barroso — foi recebida por aliados do presidente como uma reação da Polícia Federal às recentes investidas de Bolsonaro sobre o órgão. O ministro da Justiça, Sergio Moro, também esteve no centro da crise: de um lado, teve sua autoridade como ministro a quem a PF está subordinada diminuída por declarações do presidente. Por outro, integrantes da PF se incomodaram com o que seria uma falta de defesa pública da corporação por parte de Moro. Nesta quinta-feira, horas depois da operação, o ministro se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada , em encontro que não estava na agenda dos dois.

Bezerra Coelho é acusado de receber propina de empreiteiras quando era ministro da Integração Nacional, ainda no governo Dilma Rousseff. A PF diz que o senador recebeu R$ 5,5
milhões em propina desviada de obras públicas . Seu filho, o deputado federal Fernando Coelho Filho (DEM-PE), teria recebido R$ 1,7 milhão do mesmo esquema durante o governo
Dilma quando era ministro da Integração Nacional.

Agentes da PF cumpriram na manhã desta quinta-feira, no Congresso Nacional,  mandados de busca e apreensão no gabinete de Bezerra e de seu filho, na Câmara dos Deputados. Além
das buscas no Congresso, endereços ligados aos parlamentares em Pernambuco também foram alvos da operação. A PF chegou a pedir o bloqueio dos bens do senador, mas o pedido foi negado pelo ministro Barroso, relator do caso.

Nesta quinta-feira, Bezerra colocou o cargo à disposição do governo , além de afirmar que "não havia necessidade" da operação determinada pelo ministro Barroso. A defesa do senador e do deputado Coelho Filho afirma que os fatos investigados são antigos. “Causa estranheza à defesa do senador Fernando Bezerra Coelho que medidas cautelares sejam decretadas em razão de fatos pretéritos que não guardam qualquer razão de contemporaneidade com o objeto da investigação. A única justificativa do pedido seria em razão da atuação política e combativa do senador contra determinados interesses dos órgãos de persecução penal”, afirmou o advogado André Callegari.

Coube ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , falar pelo governo sobre o caso. Primeiro, Onyx afirmou que Bezerra tem de explicar às autoridades detalhes sobre sua "vida pregressa", buscando reforçar que as acusações se referem ao período do governo Dilma. Depois, o governo decidiu que ele permanece no cargo de líder no Senado.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a Casa vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a operação contra Bezerra.

Alcolumbre argumentou que a operação se refere há fatos que ocorreram entre 2012 e 2014, quando Bezerra não era senador. Como não conexão com o mandato, o presidente do Senado
considera que o caso deveria estar em curso em outra instância, não no Supremo. Ele citou também o fato de a Procuradoria-Geral da República ter se posicionado contra a busca e
apreensão.