MPF rebate governo e diz que 'desmanche' em mecanismo antitortura viola tratado

Parecer contra decreto de Bolsonaro que determinou exoneração de peritos do órgão aponta "injustificado retrocesso na proteção de direitos"

Bolsonaro assinou decreto que exonera peritos do mecanismo antitortura em junho
Foto: Renato Costa / FramePhoto / Agência O Globo
Bolsonaro assinou decreto que exonera peritos do mecanismo antitortura em junho

O Ministério Público Federal (MPF) rebateu recurso da União contra decisão da Justiça que vetou a exoneração, definida pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) , de peritos do  Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), conhecido como mecanismo antitortura.

A demissão e extinção dos cargos de 11 peritos do órgão foi definida por meio de decreto assinado por Bolsonaro em junho. Atendendo a pedido da Defensoria Pública e do MPF, o Juízo da 6ª Vara Federal do Rio de Janeiro concedeu liminar para evitar o desmanche no mecanismo antitortura , decisão que foi posteriormente mantida pelo desembargador Guilherme Calmon, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).

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A União recorreu da decisão, contestando a atuação da Defensoria na causa e alegando que, apesar das exonerações, o órgão responsável por fiscalizar instalações como presídios, hospitais psiquiátricos, abrigos de idosos e centros militares de detenção "continuaria a existir" e seguiria "em pleno funcionamento, sem qualquer embaraço administrativo".

O MPF contestou os argumentos apresentados e afirmou que o decreto de Bolsonaro extrapola as prerrogativas de seu cargo como presidente da República, " tendo em vista que o total desaparelhamento do MNPCT dos cargos de assessoramento previamente ocupados pelos peritos configura verdadeira extinção do órgão, eis que inviabiliza que as funções desempenhadas pelos profissionais sejam adequadamente desempenhadas". 

A Procuradoria alega que a medida configura "injustificado retrocesso na proteção de direitos fundamentais" e descumpre o  tratado internacional antitortura . "Ao assim proceder, o Estado brasileiro passa a descumprir a obrigação internacionalmente por ele assumida de 'tornar disponíveis todos os recursos necessários para o funcionamento dos mecanismos preventivos nacionais'", escreveu o procurador regional Paulo Fernando Correa, que assina a manifestação.

Os cargos no mecanismo antitortura pertenciam à estrutura do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mas foram remanejados para a Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia por força do decreto assinado pelo presidente.

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Por essa razão, o parecer do MPF também aponta que não há "base lógica" em o governo argumentar que a exoneração dos peritos se deve à intenção de economizar recursos, uma vez que o governo continuaria a pagar os mesmos salários a outros profissionais no Ministério da Economia.