Expulsão de Aécio Neves do PSDB pode parar na Justiça

Grupo do PSDB que quer expulsão de Aécio Neves não descarta judicialização do processo. Pedido para tirar deputado da sigla foi negado

Em meio à crise interna deflagrada após a filiação do deputado federal Alexandre Frota e da vitória do deputado federal Aécio Neves na executiva nacional, que votou pela sua manutenção no PSDB , o partido se prepara para enfrentar um processo que pode extrapolar a barreira partidária.

Expulsão de Aécio Neves pode ser levada a esfera judicial por grupo descontente na sigla
Foto: Valter Campanato/ABr
Expulsão de Aécio Neves pode ser levada a esfera judicial por grupo descontente na sigla

Ao mesmo tempo em que um grupo do PSDB quer recorrer à instância maior da legenda para tentar evitar a entrada de Frota, expulso pelo PSL, outra preocupação é na esfera jurídica, uma vez que lideranças tucanas não descartam a judicialização do processo envolvendo Aécio.

Além disso, o fogo amigo domina as fileiras da sigla. Em entrevista recente, o presidente do PSDB em São Paulo, Fernando Alfredo, declarou, à Folha de S.Paulo , sem citar nomes, que “boa parte da turma que votou no Aécio pela não expulsão é a turma para quem ele distribuiu dinheiro”, e que o deputado mineiro prejudicou o partido, em especial o prefeito (paulista) Bruno Covas. Tanto Bruno como o governador de São Paulo, João Doria , vinham fazendo campanha pela saída do colega mineiro.

O prefeito paulista chegou a ser contundente: “Ou ele ou eu”. Doria, que defendia o afastamento de Aécio para que fizesse sua defesa fora da sigla, queixou-se após ver a executiva poupar o correligionário. O governador de São Paulo afirmou por meio do Twitter que o “PSDB escolheu o lado errado” , e que a decisão do diretório nacional “não reflete o sentimento da opinião pública brasileira”.

Por mais que não esteja enterrado, o caso de Aécio Neves só deve ter novos rumos caso ele seja condenado judicialmente. Grampeado pedindo R$ 2 milhões ao então dono da JBS, Joesley Batista, para que pudesse pagar despesas com sua defesa na Justiça, o então presidente do PSDB perdeu espaço no partido.

O tucano mineiro é alvo de ao menos oito inquéritos e é réu por corrupção passiva e obstrução da Justiça. As investigações foram abertas após delações da Odebrecht, da JBS e do ex-senador petista Delcídio Amaral, a partir de desdobramentos da Lava-Jato. Aécio é réu no processo relativo ao episódio envolvendo Joesley. O deputado nega. Ele ainda não foi julgado.

Regras

O departamento jurídico do PSDB afirmou que o código de ética do partido prevê expulsão de filiados quando há condenação pela Justiça — o que não é o caso do parlamentar mineiro — e que uma eventual “judicialização” do processo não cabe à legenda.

O outro caso que balançou o PSDB na última semana foi o de Alexandre Frota. O diretório estadual do PSDB de São Paulo foi responsável por arquivar na última terça-feira ((20) o documento que pedia a impugnação da ficha do recém-filiado.

Os autores do documento, José Aníbal e Pedro Tobias, no entanto, protocolaram o mesmo pedido também à cúpula do partido. O colegiado pode decidir nos próximos dias se barra ou não a entrada do ex-deputado do PSL.

Partiu da boca de Frota o motivo pela reação tucana. No documento, Tobias e Aníbal afirmam que o PSDB não pode ser usado por pessoas que estejam “à margem de sua carga histórica e ideológica” e destacam ofensas proferidas por Frota recentemente, como a que ele se refere a Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e considerado uma liderança emblemática do PSDB, como um “porco” e um “rato de esgoto e acuado”.

 Além do mais, alguns tucanos se incomodaram com a defesa que Frota fez da candidatura de Joice Hasselmann, líder do governo Bolsonaro no Congresso, à prefeitura de São Paulo horas antes de se filiar ao PSDB. Para eles, já fechado com a nova sigla, o deputado deveria ter endossado a candidatura de Bruno Covas, atual prefeito e candidato natural tucano à reeleição.

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A cúpula nacional do PSDB é presidida por Bruno Araújo, próximo ao governador João Doria, de quem partiu o convite para Frota se filiar à sigla. Aníbal não parece otimista em relação o que o diretório pode decidir. Respondeu com um “não sei, vamos ver” quando perguntado sobre as expectativas.