Vaza Jato: Deltan queria monumento à Lava Jato, mas Moro alertou sobre "soberba"

Em mensagens, coordenador da força-tarefa teria defendido estratégia de marketing para reformas defendidas pelos procuradores da operação

Foto: Divulgação
Vaza Jato: Deltan queria monumento à Lava Jato, mas Moro alertou sobre 'soberba'

O procurador Deltan Dallagnol idealizou a instituição de um monumento à Operação Lava Jato  como estratégia de marketing para as reformas que considerava necessárias no combate à corrupção, apontam mensagens trocadas no Telegram pelo coordenador da força-tarefa com colegas e com o então juiz Sergio Moro.

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Em maio de 2016, Dallagnol teria buscado o apoio do então magistrado para a instalação de uma escultura na praça em frente à sede da Justiça Federal em Curitiba, mas foi contrariado e alertado por ele que "poderia a iniciativa toda soar como soberba".

A nova leva de diálogos foi divulgada nesta terça-feira pela Folha de S. Paulo , em parceria com o site The Intercept Brasil . Dallagnol e Moro têm destacado que não reconhecem a autenticidade do material publicado desde junho pelo "Intercept".

"Precisamos de estratégias de marketing. Marketing das reformas necessárias", teria escrito Dallagnol a colegas, em grupo no aplicativo. Neste contexto, teria surgido a ideia de criar um monumento à operação e a reformas defendidas pela força-tarefa, como o projeto das Dez Medidas Contra a Corrupção. A peça simbólica seria escolhida por meio de um concurso.

De acordo com a publicação, o projeto rendeu discussões entre procuradores, com a chefia do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná e com Sergio Moro, embora nunca tenha se concretizado. Nas mensagens, Dallagnol teria descrito como imaginava o monumento.

"A minha primeira ideia é esta: Algo como dois pilares derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça..." escreveu o procurador.

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Para o coordenador da força-tarefa, conforme apontam as mensagens divulgadas, a ideia era que a escultura "simbolize o fato de que a lava-jato é um avanço, mas precisamos avançar com reformas, como a reforma do sistema de justiça e do sistema político".

"Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além... Posso contar com seu apoio?", teria perguntado Dallagnol a Moro, por meio do aplicativo Telegram.

"Não é melhor esperar acabar?", teria respondido Moro .

Ainda de acordo com a Folha , Dallagnol negou ao então juiz que o objetivo fosse "endeusar" a Lava-Jato. Ele ainda teria afirmado que a procuradora-chefe no Paraná, Paula Conti Thá, "adorou e se empolgou" com a ideia, cujo plano sairia não da força-tarefa, mas da Procuradoria no Paraná com a Justiça Federal.

"Eu apostaria que tão somente a existência do concurso já será matéria de jornal, estimulará o debate sobre reformas, e frisaremos na proposta do concurso das esculturas a necessidade de reformas e que elas simbolizem as reformas necessárias... sabemos que precisamos ir além, como país, e só estou pensando nisso para fazer tudo o que estiver ao meu/nosso alcance", teria argumentado o procurador, em favor da iniciativa.

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Moro teria pedido tempo para pensar. Depois, teria confirmado sua oposição ao projeto.

"Melhor deixar para depois. Em tempos de crise, o gasto seria questionado e poderia a iniciativa toda soar como soberba", teria escrito o então juiz a Dallagnol .