Com agenda apertada por conta da sua tripla jornada como senador e jornalista e radialista, Jorge Kajuru (Patriota-GO) resolveu falar. Em entrevista ao iG , no seu costumeiro tom impaciente e polêmico, o parlamentar que surpreendeu ao conseguir uma cadeira no Senado com uma campanha de custos menores que seus adversários reitera sua obsessão em ver o ministro Gilmar Mendes fora do Supremo Tribunal Federal (STF) e dispara contra desafetos políticos.
Aos 58 anos, dos quais 40 trabalhando na imprensa esportiva, listado como uma das figuras mais polêmicas do Brasil , Kajuru chegou ao Senado em uma histórica disputa eleitoral em Goiás durante o segundo ano como vereador de Goiânia.
Kajuru parece não esquecer de quem um dia lhe fez mal. Estremece a voz, por exemplo, ao lembrar que quase perdeu a vaga no Senado quando um de seus vídeos, fora de contexto, se espalhou nas redes sociais de pastores da Assembleia de Deus em Goiás.
Da boca do senador sai um pergaminho de adjetivos. Aos amigos, Kajuru é lisonjeiro. Especialmente quando defende José Luiz Datena para a Prefeitura de São Paulo , chamando-o de “inteligentíssimo”. Ele não deixa de comentar nem sobre o presidente Jair Bolsonaro, ao seu ver, um homem “honesto”.
Aos inimigos, porém, Kajuru é desmedido. Repete, como mantra, que o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), é “ladrão” e Gilmar Mendes, “nefasto”.
As críticas não param no seu reduto político. O parlamentar ainda chama o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de "almofadinha". Sem papas na língua aponta o apresentador da Rede Globo, Luciano Huck , como alguém que não gosta de pobre.
Enquanto formula respostas para perguntas que o contraria, o senador gagueja e dispara vocativos do tipo “mestre” e não raro pergunta se o repórter está louco, como quando perguntado se aceitaria compor chapa com o presidente Jair Bolsonaro no pleito de 2022 como vice. “Não nasci para ser vice de ninguém."
Kajuru ainda relembra a indiferença do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), de pôr em pauta o impeachment de Gilmar Mendes e diz que, se tivesse poder, colocaria o jornalista do The Intercept Glenn Greenwald na cadeia após vazamentos de conversas de procuradores da Lava Jato e do ex-juiz e atual ministro Sergio Moro.
Glenn Greenwald encabeça a equipe de jornalistas do The Intercept Brasil que promoveu a #VazaJato, série de reportagens sobre a Operação Lava Jato baseada em conversas pelo Telegram, trocadas entre procuradores e o juiz Sérgio Moro, publicada a partir do dia 9 de junho deste ano. Vencedor do Pulitzer, o profissional fez acordo com diversos veículos de comunicação brasileiros para promover investigações conjuntas sobre o assunto - e, até o momento, não há qualquer indício de que alguma das mensagens publicadas tenha sido adulterada. O trabalho, no entanto, é questionado por bases governistas por se basear em conteúdo obtido ilegalmente, que já levou à prisão de suspeitos .
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Último Segundo - Nos primeiros meses no Senado, o senhor se irritou algumas vezes com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, principalmente porque ele era contra o impeachment do ministro Gilmar Mendes. A relação melhorou?
Jorge Kajuru - No primeiro semestre ele cometeu erros gravíssimos, mas voltou no segundo semestre melhor, bem mais equilibrado. Voltou bem mais relacionado com os senadores. Ele refletiu.
US - O senhor o criticou nas redes sociais e no parlamento.
Alcolumbre concorda que poderia ter tido um relacionamento melhor, não negar aos pedidos de abertura de CPI, de impeachment , por exemplo. Ele teria que ter diálogo e não ficar empurrando [os pedidos de impeachment] com a barriga.
US - Um desses embates era justamente por causa de Gilmar Mendes. Qual o motivo de enfrentamento com o ministro?
Por que Gilmar Mendes é a figura mais nefasta do judiciário brasileiro e é odiado pelo país inteiro. É unanimidade.
US - Quais são os interesses do ministro?
Completamente financeiro, por isso ele é um homem bilionário. A três dias do final do governo Temer, ele recebeu em publicidade da Itaipu 2, 6 milhões em um evento da empresa dele em Lisboa. Isso é crime. É igual um senador ter o patrocínio do Banco do Brasil na TV dele.
US - O que falta para colocar em pauta?
Temos 30 senadores, precisava de 27. Pela decisão do Supremo, o Senado é obrigado a instalar uma CPI assim que ela obter as assinaturas necessárias. O presidente [Alcolumbre] desrespeitou o regimento e a decisão do Supremo. O próprio STF decidiu isso há dois anos.
US - O senhor costuma adjetivar o ministro Gilmar Mendes…
Primeiro, eu não adjetivei, foi uma reciprocidade de adjetivos. Como ele adjetivou pessoas como cretinas, desqualificadas, covardes, eu devolvi o que ele merecia ouvir.
US - A saída do senhor do PSB teve alguma coisa a ver com a falta de apoio para a CPI da toga ou impeachment do ministro Gilmar Mendes?
A saída minha, não. A saída minha, não (repete). Eu que quis sair. Eu que quis sair (repete). O partido não queria que eu saísse. Eu que quis sair, é diferente.
US - Por que saiu então?
Dois idiotas do partido - que não são nenhum dos 32 deputados nem o presidente do partido - que se acham caciques foram criticar em reunião minha atitude [de pedir o impeachment] com Gilmar Mendes.
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US - Quem são eles?
Não sei. Ninguém quis contar para mim. Eu sei que são dois. Não é nenhum dos 32 deputados, repito, e muito menos o presidente do partido. Certamente esses dois têm rabo preso com Gilmar Mendes. Não vou ficar em um partido que tem dois caras com rabo preso com Gilmar Mendes. Esses caras não são nenhum dos 32 deputados federais e nem o presidente do partido.
US - O senhor se encontrou com a Janaína Paschoal (PSL-SP)?
Nunca vi a deputada, mas admiro ela. Mas não concordo com ela que quer o impeachment do Dias Toffoli antes do Gilmar Mendes. Isso é atropelar as coisas. Primeiro é o Gilmar, que cometeu muito mais crimes do que o Toffoli. Ou então peça dos dois. Pedir do Toffoli e não do Gilmar é foda (sic). Aí eu paro. Aí eu dou um tiro na [minha] cabeça.
US - Qual a principal pauta do movimento Muda Senado?
A primeira pauta é a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Toga, depois os pedidos de impeachment.
US - Por que foi para o Patriota?
O dono do partido, o presidente e o secretário nacional são meus amigos há 30 anos. Eu sei que eles são honestos. E é um partido que me deixa falar o que eu quiser, fazer o que eu quiser. O problema do Patriota é que, só eu senador, eu perco comissões parlamentares. Sou o único senador que está em cinco comissões, inclusive na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ). Ainda tem a CPI do Esporte, que eu criei, onde posso ser presidente ou mesmo o relator. Vou ter que contornar senão vou ter que sair do Patriota.
US - O senhor pensa em sair do Patriota se não conseguir garantir a permanência nas comissões?
Não, meu filho. Eu não penso em sair. Falei para você que o problema é que o problema do Patriota (diz palavra por palavra) como sou o único senador. O partido precisa ter três senadores para o parlamentar fazer parte de comissões, ser presidente ou relator de CPI. Não vou sair. Só vou sair se o Alcolumbre ou o secretário-geral Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho confirmarem para mim que eu vou ter que sair das comissões. Eu não quero sair. São cinco comissões. Esse é o único problema que tenho com o Patriota, que é o único partido que tenho do coração porque é dirigido por três amigos que conheço há 30 anos.
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US - O senhor está acompanhando os vazamentos de conversas do ministro Sergio Moro?
"Eu acompanharia gravações de hackers interceptadas ilegalmente?"
Não, mestre, eu não mexo com isso, não. Meu masoquismo não chega nesse nível. Eu vou acompanhar algo que não é sério? Eu acompanharia gravações autorizadas pela Justiça. Agora, eu acompanharia gravações de hackers interceptadas ilegalmente? Vou levar isso a sério? Você está brincando comigo. Eu sou jornalista há 40 anos em veículos nacionais. A vida toda usei gravações de políticos, mas com autorização judicial. Entra no telefone de uma pessoa de forma ilegal e começar a soltar? Como vou ter certeza se ele [Glenn Greenwald] não editou?
US - O senhor concorda com a prisão ou deportação do jornalista Glenn Greenwald?
Se eu tivesse poder já tinha botado ele na cadeia há muito tempo. O lugar de jornalista que presta este tipo de serviço é na cadeia.
US - O senhor afirmou que o governador de São Paulo, João Doria, é a ‘escória da escória’.
Primeiro, ele é um picareta social. Quando tinha programa de televisão na RedeTV ele vendia entrevistas. Eu trabalhei com ele, embora não tivesse nenhuma amizade com ele. Acho ele deplorável como pessoa. Um almofadinha metido, gosta só de coisa boa. Milionário de forma injustificada. Politicamente, para mim, ele não tem nada de mais. Ele é uma aparência. Tomara que o Brasil entenda isso e não deixe ele ser Presidente da República. Ele consegue empatar com gente da laia do Luciano Huck [apresentador da Rede Globo]. Desse tipo de gente eu quero distância oceânica.
US - Inclusive Luciano Huck?
Claro, ele odeia pobre. Ele procura o primeiro lavabo para lavar a mão.
US - O senhor está apostando que o Luiz Datena seja prefeito de São Paulo São Paulo.
Não estou apostando, estou sonhando que ele aceite, mas até agora ele não quis.
US - Por que Datena seria um bom prefeito para São Paulo?
"O Datena é o único homem que paga imposto todo mês"
Porque ele é o homem mais honesto que conheci na vida. O Datena é o único homem que paga imposto todo mês. Eu mesmo pago Refis porque não consigo pagar imposto toda hora. Datena paga imposto integral, nunca deu um cheque sem fundo na vida. Datena tem amor ao próximo, ajuda todo mundo, do porteiro a maquiadora. É um cara inteligentíssimo e leu mais do que viveu. Datena leu Homero, Trotsky, Dostoiévski. Sabe tudo, conhece tudo. Se quiser discutir qualquer coisa com ele, vai ver que é preparadíssimo. Coloco a mão no fogo pelo Datena.
US - O presidente disse ao senhor que vai usar o seu projeto para regulamentar a posse de armas.
Concordo com o porte de armas nas propriedades rurais e em casa. Não concordo em tornar o Brasil em bangue-bangue, ou seja, um replay do filme “Um dia de Fúria”, com Michael Douglas.
Eu discuto a potência das armas, o perigo da potência de uma arma nas mãos de um embriagado, de um marido ciumento, de um nervoso no trânsito. de um caminhoneiro bravo na estrada. É preciso preparar e orientar o cidadão, com educação, treinamento da Polícia Federal. Agora liberar geral? Você está doido? Vira bangue-bangue. Tem que ter [porte] como nos Estados Unidos.
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O próprio presidente Jair Bolsonaro concordou comigo quando eu o entrevistei. Ele disse que ia usar o meu projeto. Ele reconheceu que liberar geral, de uma vez, é um perigo. Tem que ter um preparo maior para as pessoas terem armas nas ruas.
US - O senhor teme a opinião de evangélicos bolsonaristas? Em Goiás, a poucas dias das eleições, um vídeo do senhor viralizou em grupos dos religiosos e isso quase o levou à derrota.
Não tem nada disso. A verdade nua e crua sobre o que aconteceu foi que dois pastores vendedores da palavra de Deus, picaretas, que vivem do dinheiro dos fiéis inocentes, esses dois vigaristas, ao contrário de pastores que são meus amigos, usaram uma mentira. Um vídeo editado.
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Eles editaram um vídeo e colocaram eu falando “Deus para mim é um canalha”. Falei em um programa da Sônia Abraão. Eu disse que não posso ser obrigado a dar 10% do salário. Isso não é correto. Eu disse que esse Deus que eu amo não exige pedir 10% do salário de um trabalhador pobre que vive em dificuldades. Comentei isso quando saiu a notícia de que o Edir Macedo da Universal pegava uma parte do salário dos funcionários como dízimo. Eu disse que se existe um Deus que exiga isso, esse Deus é canalha. O que eles fizeram? Pegaram só essa parte. Eles são uns canalhas. Não adiantou. Tanto que Deus existe e o meu é o verdadeiro, já que eu ganhei a eleição com quase 1 milhão e 600 mil votos. E ainda ganhei gastando 209 mil reais de um cara que gastou milhões. Coloquei lugar. Coloque ele no quinto dos infernos [referindo-se ao ex-governador de Goiás Marconi Perillo]. Se Deus estivesse contra mim, certamente teria perdido a eleição.
"Ele [Marconi Perillo] morreu"
US - Qual o nível de satisfação para o senhor depois de derrotar Marconi Perillo?
Derrotado, não? Ele está enterrado politicamente. Ele morreu. A minha satisfação é a mesma da população goiana que hoje sabe quem é Marconi Perillo, que governou por 20 anos Goiás. Ele é o maior ladrão da história de Goiás. A Justiça bloqueou R$ 6 bilhões dos bens dele. Para eu bloquear R$ 6 bilhões seu é porque você tem. Se ele não tivesse isso tudo a Justiça não bloquearia.
US - O senhor tem alguma outra pretensão política fora do Senado?
Nenhuma. Nenhuma. Nenhuma. A única pretensão é acabar meu mandato, fazer história. Fazer um puta mandato, um puta legado, correr para Búzios com a minha mulher, beijar na boca dela e ficar olhando para o mar.
US - O presidente já entendeu a sua influência nas redes sociais. Ele se mostra até preocupado…
Preocupado, não. Ele já me elogiou e brincou comigo perguntando se eu compro seguidores. Me perguntou como eu tenho mais seguidores que ele. Disse para ele que estou nisso há 12 anos e ele há um ano.
US - O senhor acredita na governabilidade do presidente até o final do mandato?
"Bolsonaro não rouba e não deixa roubar"
Acredito que ele vai recuperar e vai fazer um puta governo. Acredito porque Bolsonaro não rouba e não deixa roubar. Fui levar uma documentação para ele de um funcionário envolvido em uma quadrilha. Ele mandou demitir o cara, na minha frente.
US - Quem é esse funcionário?
Isso vai vir a público. Eu não vou te falar o nome. Não sou canalha. Se eu fizer isso, sou canalha. O presidente pediu para eu esperar no Diário Oficial. Não contaria nem para a minha mãe se fosse jornalista.
US- O senhor aceitaria ser vice do presidente Bolsonaro em uma chapa em 2022?
Você está doido? Não nasci para ser vice de ninguém. Você só pode estar brincando comigo. Você só pode estar doido.
US - Falando em jornalismo, você vai retomar a Rádio K em Goiás?
Cedi por contrato, mas gratuitamente, as marcas “Feras do Kajuru” e “Rádio K” para o jornalista Charlie Pereira, que está na Rádio Sagres. Eu participo do programa sem cobrar nada porque eu não preciso de dinheiro de rádio.