Moro pede à PGR abertura de investigação contra presidente da OAB

Felipe Santa Cruz teria dito que Moro "banca do chefe de quadrilha" ao propor destruição de mensagens apreendidas pela PF com supostos hackers

Moro pede à PGR abertura de investigação contra presidente da OAB
Foto: Isaac Amorim/MJSP - 8.8.19
Moro pede à PGR abertura de investigação contra presidente da OAB

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu nesta quinta-feira (8) que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, investigue o presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz , por suposto crime de calúnia. O crime teria sido cometido quando Santa Cruz disse que Moro "banca o chefe de quadrilha" nas
investigações sobre o hacker suspeito de invadir aplicativos de celulares do ministro e de outras autoridades.

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"Atribuir falsamente ao Ministro da Justiça e Segurança Pública a condição de chefe de quadrilha configura em tese o crime de calúnia do art. 138 do Código Penal", disse Moro,
numa representação enviada à Dodge. Para o ministro, caberá a Procuradoria-Geral apurar o caso e "solicitar as providências necessárias voltadas à responsabilização" de Santa
Cruz. Com o pedido de investigação de Moro aumenta a pressão do governo contra o presidente da OAB.

Há duas semanas ele foi duramente criticado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). Numa entrevista, Bolsonaro chegou a dizer que, se Santa Cruz quisesse, ele contaria como o pai
do advogado, um militante de esquerda, foi morto durante a ditadura . Nesta semana, a  Petrobras rompeu um contrato de trabalho com o presidente da OAB.

O embate com Bolsonaro e Moro teve início no mês passado. Numa entrevista publicada pela Folha de S.Paulo em 26 de julho, Santa Cruz disse que Moro "usa o cargo, aniquila a
independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que são investigadas".

Santa Cruz teria feito a declaração com base na informação de que Moro telefonou para autoridades para avisar que as mensagens capturadas pelos hackers de Araraquara e depois
apreendidas pela Polícia Federal s eriam destruídas em nome da privacidade das vítimas das invasões . O ministro da Justiça está entre as autoridades que tiveram aplicativos
hackeados. Moro teria tratado do assunto com várias pessoas, entre elas o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha.

"Extrai-se do texto (reportagem da Folha) menção explícita pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Sr. Felipe Santa Cruz, a suposta unidade de desígnios entre este
subscritor e outros indivíduos com o objetivo de cometimento de ilícitos, o que configura imputação falsa de fato definido como crime –especificamente de associação criminosa,
ex vi do art. 288 do Código Penal", escreveu Moro.

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Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Agência O Globo - 5.8.19
Presidente da OAB Brasil, Felipe Santa Cruz

O ministro disse ainda que não é verdade que teve acesso ao conteúdo de mensagens registradas nos aparelhos eletrônicos apreendidos pela PF no inquérito sobre os supostos
hackers , conforme teria dito Santa Cruz.

"Ademais, o comentário repercutiu na esfera subjetiva deste subscritor, em seu sentimento e senso de dignidade e decoro, visto que também sugere uma conduta arbitrária no exercício das relevantes funções de Ministro de Estado e Segurança Pública, de ingerência e interferência na Polícia Federal, acarretando também a tipificação nos crimes de injúria e difamação", acrescentou.

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Na representação, Moro informa a procuradora-geral que decidiu pedir investigação depois de receber da consultoria jurídica do ministério a indicação de que a conduta de Santa
Cruz poderia ser enquadrada nos tipos penais "de calúnia, injúria e difamação, com o que estou de acordo, além de consignar que o teor da manifestação repercutiu, efetivamente,
sobre a minha honra subjetiva".