Com Eduardo Bolsonaro na embaixada, governo deveria adotar slogan "Yes, he can"

Um bom slogan: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é bonito e emociona a bancada evangélica, mas não propõe nenhum objetivo concreto

Foto: Paola de Orte/Agência Brasil
Eduardo Bolsonaro pode ser a escolha do pai para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos

Quem vem observando o presidente Messias nos últimos meses tem se divertido a valer. Toda semana alguma atitude do nosso mandatário surpreende e diverte. E lá vão Casa Civil e porta-voz tentar pôr as coisas de volta aos trilhos. Pode ser um tuíte, uma declaração, um flagrante qualquer. Ou um gesto, uma foto, uma escapadela do protocolo.

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Nas últimas semanas, mais do que observar este comportamento anedótico de Bolsonaro, procurei encontrar a razão para que isso aconteça com tanta frequência. Os menos atentos dirão que Trump também é assim. Mas não é. O presidente americano tem uma agenda por trás das bobagens que emite. Por exemplo, no final de semana passado, Trump sugeriu que congressistas afro-americanos, latinos, palestinos e somalis voltassem aos seus países de origem. Polêmica. Mas é polêmica alinhada com o seu velho discurso xenófobo, que habilmente seus marqueteiros resumiram no slogan de teor nacionalista “Make America great again”.

Por isso, estou convencido que a origem das patacoadas do presidente Messias repousa na falta de um slogan inspirador. Afinal, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é uma frase bonita, patriótica e que emociona a bancada evangélica, só que não propõe nenhum objetivo concreto e, principalmente, não oferece ao presidente uma justificativa para seus tuítes.

Aí o coitado fica a atirar para todos os lados.

Alguns poderiam dizer que o “Make America great again” é tão sem inspiração quanto. Seria o caso se fosse, digamos, “America is great, God is greater”. A questão é que esse “make” faz toda a diferença. Porque slogan bom tem que ter voz de comando, vender a ideia de firmeza.

O que dizer do antológico “Yes, we can” do Obama, que poderia ser traduzido livremente para algo como “A gente aqui nos EUA pode tudo, meu filho”.

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Nós mesmos tivemos, no passado, slogans do jeito que manda o figurino. Aliás, antigamente a coisa era feita do modo inverso e dava muito mais certo. Primeiro o político decidia qual seria o foco do seu projeto de governo, então o slogan refletia este objetivo. Não eram mensagens genéricas como essas atuais. Nada disso.

Os slogans do passado eram verdadeiros contratos. Querem um bom exemplo? Com a chegada da indústria automobilística, Washington Luiz se elegeu, em 1926, com o lema “Governar é abrir estradas”. Olha aí que beleza. Fácil e objetivo. Abriu estradas: missão cumprida.

O que dizer do clássico de Getúlio Vargas, em 1953, com “O petróleo é nosso”. Algo que vale até nos dias de hoje, desde que com o adendo “… e os contratos são do PT”. Tem ainda o que elegeu Juscelino Kubitschek: “50 anos em 5”. Uma meta e um prazo em apenas quatro palavras. Perfeito.

Aí veio Jânio Quadros, com o “Varre, varre, vassourinha”, prometendo acabar com um problema que existia lá no passado: a corrupção. Adivinha se varreu? Mas não importa. A meta estava lá. Até o governo militar teve o ufanista “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que na época os opositores completavam maldosamente com “O último que sair, apague a luz”.

Aí temos nosso Messias, pobrezinho, sem ter no que se agarrar. Por isso acho que a solução para este governo reside na mudança desse slogan sem tempero para algo picante como a personalidade do próprio presidente. Opções não faltam por aí. E não causaria vergonha alguma buscar inspiração no que deu certo no passado. Por isso, humildemente, sugiro: “Brasil, o revólver é nosso”;“Brasil, hétero ou deixe-o”.

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Ou algo mais comprometido com algum projeto específico. Pode ser: “Vamos fazer a Previdência grande de novo”. Mas o meu preferido, sem dúvida, é: “Yes, he can”, para garantir a embaixada de Eduardo Bolsonaro em Washington. Pode não ser o que todo mundo deseja, mas renderia tuítes alinhados com uma meta clara e objetiva. E no final, é só isso que importa.