Senado deve votar hoje projeto que obriga presos a pagarem despesas na cadeia

Proposta prevê ressarcimento do Estado por meio de recursos próprios ou desconto em remuneração de trabalho do detento

Projeto foi proposto ainda em 2015, mas só deve ser finalizado agora
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado - 25.6.19
Projeto foi proposto ainda em 2015, mas só deve ser finalizado agora

O plenário do Senado deve concluir nesta terça-feira (9) a votação de um projeto de lei que obriga o preso a pagar o Estado por suas despesas na cadeia — com recursos próprios ou com parte de sua remuneração por trabalho na penitenciária. A proposta chegou a ser discutida no pleno há uma semana, mas teve a análise adiada pela segunda vez. O PL 580 voltou à ordem do dia da Casa nesta terça-feira.

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Proposto em 2015 pelo então senador Waldemir Moka (MS), o projeto chegou a entrar na pauta de 28 de maio, mas não foi apreciado pelo Senado , diante dos temores de senadores de que a imposição de pagamento pudesse submeter os presos a trabalhos forçados na cadeia ou endividá-los no processo de reintegração à sociedade. Em maio, o texto foi aprovado com alterações da senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado.

O projeto de lei modifica partes da Lei de Execução Penal, de 1984, que prevê a possibilidade de ressarcimento do Estado com os frutos do trabalho do preso. A nova proposta tornaria obrigatório o pagamento pelos gastos com a "manutenção no estabelecimento prisional" e incluiria a opção do custeio por recursos próprios.

O PL 580 foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça ( CCJ ) da Casa, no meio do ano passado. O relator dele na CCJ, o hoje governador Ronaldo Caiado (Goiás), disse que o custo médio de cada preso para o contribuinte no Brasil era de R$ 2.440 por mês. Estudo do Ministério da Justiça realizado em 2015 apontou que um detento no sistema federal de segurança máxima chegava a  custar R$ 15,8 mil mensais.

Segundo a proposta, os valores só serão cobrados do preso quando houver sentença definitiva . Antes disso, no caso de presos provisórios, a quantia será depositada judicialmente e poderá voltar às mãos do dono se ele for absolvido. A senadora Soraya ainda propôs um limite para o desconto na remuneração do preso — no máximo, um quarto — e a suspensão da cobrança da dívida por até cinco anos para os que não puderem pagar. Depois deste prazo, se houver mudança na condição financeira ou não, ele passa a quitar o débito ou fica isento de vez da obrigação.

Senadores criticam

A senadora Soraya defende que a proposta é voltada especialmente a presos que têm condições de arcar com os custos da prisão. Alguns senadores temem, no entanto, que os estados e municípios tenham dificuldades em operacionalizar a regra e questionam a falta de disponibilidade de vagas de trabalho para o preso. No relatório, Soraya destacou que caberá ao Estado dar oportunidades de trabalho ao preso — caso contrário, não poderá cobrá-lo pelas despesas de manutenção.

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Há parlamentares avessos ao projeto. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), criticou o endurecimento das regras para presos como "um castigo que se perpetua". A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, Simone Tebet (MDB-MS), destacou que a cobrança contra o detento afetaria sua família.

"Nós poderemos estar discriminando ainda mais essa pessoa que já sai na testa com o carimbo de ex-presidiário, que precisa sustentar a sua família, precisa encontrar um trabalho. Ao tirar 25% do seu salário para ressarcir o Estado, estamos tirando um dinheiro que vai para a mesa, para o material escolar do seu filho, para poder comprar um remédio na farmácia", ressaltou a senadora, segundo o Senado Notícias.