Vice-líder do governo deixa posto e diz que articulação 'vai de mal a pior'

Capitão Augusto (PR-SP) criticou a articulação política do governo, mas reafirmou seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro; o parlamentar considerou o resultado da votação da reforma da Previdência na CCJ como uma derrota

Vice-líder do governo até hoje, Capitão Augusto criticou os líderes do governo, do PSL e do Congresso
Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Vice-líder do governo até hoje, Capitão Augusto criticou os líderes do governo, do PSL e do Congresso

Coordenador da chamada "bancada da bala", o deputado Capitão Augusto (PR-SP) decidiu abandonar o posto de vice-líder do governo Jair Bolsonaro nesta quarta-feira. Ele argumentou que as críticas feitas internamente por ele sobre o relacionamento do governo com o Congresso não vinham sendo ouvidas e criticou a articulação política do Planalto. 

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"Eu sou aliado de primeira hora do Bolsonaro, fui primeiro a subir na tribuna parar declarar apoio a ele quando ninguém imaginava isso tudo. Eu estava acreditando que pudesse contribuir e estou vendo que a articulação está indo de mal e pior e me sinto impotente", disse Augusto sobre o cargo de vice-líder ao jornal O Globo .

O parlamentar criticou as escolhas feitas pelo presidente para os cargos no Congresso. Augusto afirma que o líder na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), não foi aceito pela Casa e que a líder no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), é "estrela". Sobrou também para o líder do PSL, Delegado Waldir (GO), descrito como "caricato".

"Não dá. Coloca como líder do partido do Bolsonaro o Delegado Waldir, que é caricato. É meu amigo, mas é briguento, não dialoga, ninguém o leva a sério, não é bom de discurso. O Major Vitor Hugo é trabalhador, humilde, honesto, mas a Câmara não aceitou, não deu certo, e não devia ter pego do próprio partido. E para piorar coloca a Joice como líder no Congresso, o que também não dá. Ela é muito estrela, não desce pro corpo a corpo com os deputados, e é combativa demais com a esquerda inviabilizando qualquer acordo para votações", afirmou Capitão Augusto.

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Ele prossegue dizendo que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, está sobrecarregado por acumular a articulação política com a gestão de programas de governo e diz que o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, " parece que não gosta de parlamentar".  Capitão Augusto repete as críticas recorrentes na Câmara de que ministros não abrem suas agendas para deputados e afirma que mesmo com integrantes do segundo e terceiro escalão tem sido difícil obter reuniões para parlamentares. 

Ele avaliou ainda que as concessões feitas pelo governo na reforma da Previdência já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) demonstram os problemas na articulação política. "Ontem aqui na CCJ foi uma derrota. Não pode um governo recém-eleito sangrar na CCJ desse jeito", disse.

O parlamentar diz que segue apoiando o governo, mas que abandonará a função para ver se aquele a ser escolhido para seu lugar consiga fazer o Planalto compreender os problemas.

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"Eu estou vendo que as críticas que eu faço não tem efeito, nada muda. Sou presidente de comissão, coordeno a bancada, vice-líder do PR, então deixa pra outro esse cargo, vai que eles escutam se outro falar. Se for para ter papel figurativo, prefiro não ter mais", afirmou.
Capitão Augusto já protocolou no gabinete da liderança da Câmara um ofício a Major Vitor Hugo solicitando a sua retirada da função.