Os ex-candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) prometeram, em debate realizado nesta terça-feira (23) em Brasília, uma "oposição propositiva" ao presidente Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo em que rejeitaram a possibilidade de compor com o PT nessa oposição. Os dois participaram de um evento para avaliar os 100 primeiros dias do governo de Bolsonaro, completados no início de abril. Também estiverem presentes os senadores Cid Gomes (PDT-CE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
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Ciro Gomes afirmou que as “boas práticas” recomendam respeitar os primeiros dias de governo, o que ele diz ter feito, com exceção de dois “espasmos” a autorização da fusão entre a Boeing e a Embraer e a possibilidade de um conflito armado com a Venezuela. Agora, defendeu "racionalizar" o debate.
"Não é uma corrida de 100 metros rasos, é uma maratona. O primeiro momento de um governo constituído é um momento muito importante para os ritos da democracia", disse.
Marina destacou que teve mais do que espasmos, e sim "uma verdadeira convulsão", com decisões do governo, principalmente na área ambiental e indígena, que motivaram ela a fazer uma série de críticas.
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"São assuntos que me obrigaram a ficar falando o tempo todo. Mas falando de uma maneira propositiva. Se tem alguma proposta justa e boa para o Brasil, eu não sou daquelas que acha que tem ser contra", disse a presidente da Rede.
Os dois ex-candidatos, no entanto, não se mostraram dispostos a deixar o PT, que ficou em segunda lugar na eleição presidencial, liderar a oposição a Bolsonaro. Ciro criticou a insistência da legenda no pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio do Lula da Silva e fez referência a uma fala de seu irmão Cid, que disse, durante um comício no segundo turno das eleições, que o "Lula está preso, babaca".
"Ou a gente entende o que está acontecendo ou vamos continuando gritando “Lula Livre” e o Lula está na cadeia, babaca. Eu não digo isso sem dor. O Lula, para mim e para a Marina , não é uma pessoa que a gente conheceu pela televisão".
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Ciro acrescentou que apoiou Dilma Rousseff mesmo com discordância, mas ressaltou que não irá repetir o gesto "nunca mais"
"Foi o que eu fiz no governo Dilma 1 e no governo Dilma 2. Repetir de novo, nunca mais", frisou
Marina reclamou do fato do PT não reconhecer seu erros e disse que o partido não aceita divergências.
"Tenho uma divergência na questão de um partido político que não reconhece erros em hipótese nenhuma. O problema é sempre dos outros, principalmente daquele outro que, por alguma loucura da sua cabeça, acha que pode existir fora da órbita daquele grande satélite".
Críticas de Ciro Gomes e Marina Silva à negação da política
Os dois ex-candidatos criticaram Bolsonaro por desqualificar a política e defenderam o diálogo.
"A força política mais forte hoje no Brasil é uma força para negar. É uma força que se alimenta da negação da política e da não percepção da centralidade que a política tem na vida real das pessoas", afirmou Ciro.
Para Marina, há traços de autoritarismo no que ela avaliou como uma tentativa do governo de menosprezar as instituições e estabelecer um contato direto com a população.
"Não há outra forma a não ser o diálogo. Você vai para um caminho quase autoritário, de dizer "vamos passar por cima das instituições e vamos governar em contato direto com a sociedade", entendendo a sociedade como os 15% que repetem seu discurso".
Ciro Gomes e Marina Silva evitaram falar em uma possível aliança no futuro. O pededista disse acreditar que haverá uma "combustão" na política brasileira, e afirmou que por isso aposta em novas lideranças para atuar depois dessa crise, mas ressaltou que quer participar desse movimento se conseguir "sobreviver". Já Marina defendeu a escolha das "melhores sementes" da política.