O Ministério Público Federal (MPF) enviou manifestação ao Congresso para se opor a um projeto de lei apresentado pela deputada Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), que propõe a extinção do acesso de alunos, via cotas raciais, a instituições públicas de ensino superior.
Em nota técnica assinada pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e pelo Grupo Nacional de Direitos Humanos (GNDH), os órgãos argumentam que o princípio constitucional da igualdade deve ser perseguido por meio de ações e políticas públicas, o que "demanda iniciativas concretas em proveito de grupos desfavorecidos", tais como as cotas raciais
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Já a deputada Professora Dayane Pimentel mencionou, ao apresentar o projeto na Câmara, outro trecho da Constituição: o que aponta como objetivo fundamental do Estado "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".
"Se os brasileiros devem ser tratados com igualdade jurídica, pretos, pardos e indígenas não deveriam ser destinatários de políticas públicas que criam, artificialmente, divisões entre brasileiros, com potencialidade de criar indevidamente conflitos sociais desnecessários", escreveu a deputada do PSL na justificativa do PL 1531/2019.
Para o MPF , no entanto, esse trecho do texto constitucional "não pode ser visto como um empecilho para a instituição de medidas que favoreçam grupos e segmentos que são costumeiramente discriminados".
“A Constituição de 1988 insere-se no modelo do constitucionalismo social, no qual não basta, para observância da igualdade, que o Estado se abstenha de instituir privilégios ou discriminações arbitrárias. Pelo contrário, parte-se da premissa de que a igualdade é um objetivo a ser perseguido através de ações ou políticas públicas, que, portanto, demanda iniciativas concretas em proveito dos grupos desfavorecidos”, diz a nota.
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A Procuradoria menciona ainda que o Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei nº 10.172/01, previu a necessidade de criação de “políticas que facilitem às minorias, vítimas de discriminação, o acesso à educação superior, através de programas de compensação de deficiências de sua formação escolar anterior, permitindo-lhes competir em igualdade de condições nos processos de seleção e admissão a esse nível de ensino”.
O MPF argumentou também que a política de cotas raciais se justifica ao serem analisados os índices de educação do País. Conforme os números apresentados, a população negra apresenta os piores índices de analfabetismo, de escolaridade, de remuneração salarial e de acesso à educação básica e superior no Brasil – a despeito de ser maioria.